No Nordeste é cada vez mais comum domicílios comandados por
mulheres, tanto na capital quanto no interior. E ocorre em duas condições:
quando a mulher mora só com os filhos, ou quando tem companheiro, mas é ela
quem manda nas finanças e se considera chefe da família. Nas estatísticas, as
mulheres são as responsáveis em 38,7% dos domicílios, o que representa 22
milhões de unidades, de acordo com o último censo demográfico do IBGE, de 2010.
No levantamento anterior, em 2000, essa chefia feminina estava em 24,9% dos
lares.
O casamento ruim não prende mais as mulheres. É o caso de
Maria Pamposa de Lima, de 48 anos que, desde os 31 anos, luta sozinha para criar
os cinco filhos. Já trabalhou em reciclagem quando morava em um barraco de lona
e pedaços de madeira. Hoje está no mercado formal de trabalho atuando como
servente em um bar no bairro de Casa Forte, na zona norte da capital
pernambucana. Ela deixou marido porque ele bebia muito, exigia dinheiro para
alimentar o vício e terminou morrendo de cirrose hepática.
Ela ganha um salário mínimo e complementa a renda familiar
juntando as latas de cerveja do restaurante. Dos cinco filhos, quatro moram com
ela, dois trabalham e só uma chegou à universidade, Fabiana. A jovem trabalha
na prefeitura de Moreno, onde entrou por concurso, e estuda pedagogia. Afirma
que a mãe é pobre, que viveu e vive em muita dificuldade, mas que criou a
família baseada nos princípios da ética, da moral, da honestidade e de amor ao
próximo.
— Moramos muito tempo em casa de invasão (hoje substituída
por uma de alvenaria) e nossa vida foi muito sofrida. Mas ninguém na família se
envolveu com drogas — diz Fabiana.
Além das latinhas para reforçar o orçamento, Maria
transformou um dos quartos da casa em uma lojinha que lhe rende um pequeno
aluguel.
‘Cuido de tudo: do negócio ao dinheiro’
Vizinha de Pamposa, Maria Jocelma da Silva, de 37 anos, tem
uma história diferente. Ela vive com o companheiro, Ademilton Bispo de Melo, de
47 anos, mas se considera a chefe da família. Jocelma montou um pequeno
restaurante em uma sala da residência e o marido trabalho como cozinheiro.
—Aqui a chefe sou eu. Cuido de tudo, do negócio, das
compras, das finanças. O dinheiro espicha na minha mão. Se eu deixar com ele
acaba logo, justifica.
Ademiltom afirma que apesar do machismo nordestino, não dá
importância à situação:
—Não ligo não. Vivemos em união e é tudo com ela, a casa, o
negócio, o dinheiro. Hoje a mulher faz tudo, é engenheira, é peão de obra, é
cobradora no ônibus e é até presidente.
Fonte: O Globo
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