terça-feira, 4 de setembro de 2012

Número de pedreiras brasileiras sobe 119% em 5 anos


A indústria da construção civil aos poucos dá mais espaço às mulheres nos canteiros de obras. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 239.242 trabalhadoras ocupavam postos no setor até julho – alta de 119,48% em relação às 109.006 registradas em 2007. E elas se distinguem dos homens pelo maior grau de qualificação para a execução de serviços.

A presença feminina na área operacional das construtoras ainda é relativamente pequena, embora mostre trajetória de alta, segundo o vice-presidente de relações capital trabalho do Sindicato da Construção do Estado de São Paulo (Sinduscon-SP), Haruo Ishikawa. “A mulher foi inserida por causa de falta de mão de obra qualificada”, diz.
A contratação de pedreiras pelas empresas depende, segundo ele, do tipo de serviço, do tamanho e da cultura de cada organização. “Algumas não têm nenhuma no quadro de pessoal. Outras chegam a ter 10%. Há até casos em que, a cada dez azulejistas, seis são mulheres.”
 
As escolas de formação profissional são as principais fornecedoras de mão de obra feminina para as empresas, de acordo com Ishikawa. Os cursos no mercado permitem que as trabalhadoras recebam capacitação para executar serviços que lidem com alvenaria, eletricidade, hidráulica, gesso, pintura e assentamento de pisos e azulejos.
 Nesta segunda-feira, 15 mulheres serão reunidas à equipe feminina da incorporadora e construtora Gafisa – todas alunas de um projeto de qualificação e inserção de operárias nos canteiros. Quando isso ocorrer, a empresa terá ao todo 90 profissionais, um crescimento de 32% no número de colaboradoras frente a setembro de 2011.
 “Temos um foco um pouco maior na atividade de acabamento porque algumas das qualidades da mulher são a organização e a preocupação com detalhes”, diz a gerente de gente e gestão da companhia, Adriana Farhat.
 A Gafisa realizou pequenas adaptações na área de convivência das obras para garantir o conforto das operárias. As mais representativas foram a instalações de banheiros e vestiários. “Até hoje, não tivemos problemas relevantes entre os homens e as mulheres”, conta Adriana, que vê benefícios no convívio. “Basta uma mulher para ter um ambiente de trabalho mais harmonioso e respeitoso.”
 Elisa Bataglia, de 52 anos, será um das contratadas da empresa. Ex-professora de dança, ela resolveu dar um novo rumo em sua carreira, quando optou por frequentar aulas no projeto Mulheres que Constroem – uma parceira do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil de São Paulo (Sintracon-SP) com a Escola de Altos Estudos de São Paulo (Esaesp).
 “Já fiz o curso de pintura, estou terminando o de gesso e alvenaria. Pretendo fazer ainda piso e azulejo”, diz Elisa. Na última quarta-feira, ela participou com colegas do projeto da sexta edição da feira setorial da construção civil Concrete Show, onde as trabalhadoras construíram juntas um muro de alvenaria.
 O Mulheres que Constroem abriu sua primeira turma no mês de maio, oferecendo seis qualificações em cursos de até 45 dias. “Já formamos 140 mulheres e temos 80 atualmente em curso”, diz a coordenadora do projeto, Ana Paula Tavares.
 Ela explica que a capacitação técnica envolve apenas parte do trabalho com as participantes. “Trabalhamos muito a questão de autoestima. A grande maioria é de donas de casa que nunca realizaram nenhum tipo de atividade. Muitas delas são divorciadas e sustentam a casa.” A procura pelos cursos, no entanto, não se restringe a pessoas de baixa renda, segundo Ana Paula.
 Além disso, a iniciativa pretende se adaptar às necessidades das ex-alunas para incentivar a requalificação profissional. “Vamos acompanhá-las por quatro anos para verificar o que ocorre com elas: se evoluíram de função, se estão fazendo faculdade”, diz o presidente do Sintracon-SP, Antonio Ramalho.
 Ex-funcionária de uma empresa de telemarketing, Viviana Pâmela Santos Oliveira, de 24 anos, quer obter conhecimentos práticos de alvenaria na Gafisa antes de alçar em direção ao ensino superior: “Quero fazer engenharia, mas ser uma engenheira que sabe como levantar uma parede, e isso está em falta no mercado.”

Fonte: O Estadão

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