O bispo auxiliar de Belo
Horizonte (MG) dom Joaquim Giovani Mol criticou a criminalização dos movimentos
sociais, o desemprego e a violência, também gerada pela falta do trabalho. “É
uma violência para a família”. Ele ressalta que a voz da Igreja vai no sentido
de dizer ao povo: “erga a cabeça! Precisamos compreender o que está acontecendo
há vários anos para tomarmos parte de tudo isso: viver, praticar uma democracia
verdadeiramente participativa”.
Dom Joaquim Mol falou aos jornalistas na tarde desta
terça-feira, dia 2 de maio, sobre o atual momento nacional. A crise ética na
política, a questão econômica e algumas preocupações do episcopado tiveram lugar
na fala do prelado, como o da questão da violência, dos direitos das
comunidades tradicionais, da criminalização dos movimentos sociais, do
desemprego e a da degradação do meio ambiente.
A palavra de dom Mol foi de
análise conjuntural, apresentando as situações que se colocam na realidade e
algumas causas e pontuando papéis importantes na sociedade para a superação do
quadro em que o país se encontra. Para o bispo, a reconstrução do país deverá
salvaguardar quatro pontos fundamentais: a dignidade da pessoa humana, a
liberdade, a paz e a justiça. “Temos esperança de que o povo brasileiro
alcançará [a reconstrução] porque a nossa esperança está fundada em Jesus
Cristo Nosso Senhor”, afirmou esperançoso.
Dom Joaquim Mol revelou que está
sendo objeto de reflexão da 55ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil (CNBB) um texto sobre o atual momento que o Brasil vive. Na
manhã de hoje, os bispos debateram uma prévia do que será um pronunciamento
oficial da entidade.
A Igreja, como serva da
humanidade, assim chamada por Paulo VI no fim do Concílio Vaticano II, deve dar
as contribuições à luz do Evangelho sobre tudo que diz respeito ao bem da
humanidade, de acordo com dom Mol.
Situação atual
O momento é de perplexidade e de
falta de perspectiva da população, segundo o bispo. Dom Mol começou abordando a
situação da corrupção e desprezo da ética por parte de agentes públicos e
privados.
“Esta perplexidade tem causado um
mal muito grande à nossa sociedade, que leva a população brasileira a
desacreditar, a se desencantar com os poderes no Brasil, Legislativo, Executivo
e Judiciário. E isso é não só muito ruim, mas grave, porque trata-se de
instituições que têm que ter perenidade, elas garantem o desenvolvimento da
sociedade, a organização da sociedade”, ponderou.
Para o bispo, o descrédito por
parte da população não contribui para a solução dos problemas. Ele ressalta que
a voz da Igreja vai no sentido de dizer ao povo: “erga a cabeça! Precisamos
compreender o que está acontecendo há vários anos para tomarmos parte de tudo
isso: viver, praticar uma democracia verdadeiramente participativa”. Tal envolvimento
é uma obrigação com os atos acompanhar, zelar, questionar, ajudar e rezar pelas
pessoas que representam a população.
Economia
O contexto econômico é de
“verdadeiro suplício”, de acordo com dom Joaquim Mol. Ele explica a expressão
lembrando de uma fala do papa Francisco: “uma economia que não coloca a pessoa
humana à frente como primazia, ela mata as pessoas, porque, no lugar das
pessoas, coloca o mercado, o capital”. Dom Mol recordou ainda que a Doutrina da
Igreja evidencia a primazia da pessoa humana sobre o mercado e do trabalho
sobre o capital, “exatamente o contrário do que propõe a economia de mercado”.
O pensamento da Igreja é aquilo que satisfaz a condição humana de viver com
dignidade sobre a face da terra.
“Quando a economia inverte esses
valores, ela se torna um suplício para boa parte da população”, alerta dom Mol.
Neste sentido, para uma pequena parte da população a economia é
“escandalosamente” benéfica, por conta do acúmulo de riquezas. O bispo
ressaltou a necessidade de o Estado ser o regulador do mercado.
Os últimos pontos da análise
apresentada pelo bispo foram: a questão dos direitos das populações
tradicionais, a criminalização dos movimentos sociais, o desemprego e a
violência, também gerada pela falta do trabalho. “É uma violência para a
família”, disse referindo-se ao desemprego.
“É violência também esse esforço
que tantas pessoas fazem de incutir ideias, privações e legitimações nas nossas
cabeças de forma escravizante. A isso a gente dá o nome de ideologias
escravizantes, totalitárias, que vão nos fazendo mover dentro da na sociedade,
não na perspectiva de transformar a sociedade, mas de mantê-la assim, como
satisfaz apenas a um pequeno grupo”, denunciou.
Dom Mol ainda falou da falta de
perspectiva para os jovens que, sem direcionar seu olhar para o futuro,
procura-o “de maneira fantasiosa através de outros recursos que ele pensa que
são favoráveis à sua vida”, gerando um terreno fértil para a entrada das drogas
e outros males. Outra preocupação dos bispos apresentada é a degradação e
exploração irracional do meio ambiente.
Papeis importantes
O Poder Judiciário e a imprensa
têm um papel importante no processo de reconstrução do país. O primeiro na
medida em que garante o direito e a justiça, porque esse é seu papel, mas é
esperada uma atuação independente, autônoma, fundada no cumprimento da lei,
isonômica, igual para todos. E a mídia, à qual cabe informar e colocar-se a
serviço da verdade. “No nosso entender, deve ser uma atuação livre, plural e
independente”, afirmou o bispo que concluiu: “entendemos que o caminho do
diálogo até a exaustão em momentos de crise e de acirramento é fundamental para
que o país possa se entender, se compreender para criar condições de
desenvolvimento para todos”.
Foto e Fonte: CNBB.
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