Por Mauro Lopes
Até o meio da tarde desta quinta
(27), véspera da greve geral contra as reformas do governo Temer, era possível
contabilizar 93 bispos católicos que, em notas ou vídeos, convocaram os fiéis
de suas dioceses e arquidioceses participarem ativamente do protesto. É certo
que mais bispos manifestaram-se, mas a “garimpagem” realizada por dezenas de
pessoas país afora não capturou toda a mobilização episcopal. É possível dizer
que quase 1/3 dos 308 bispos na ativa no país estão comprometidos com a greve –
veja a lista aqui.
Um olhar para a composição da
lista de bispos mobilizados mostra um novo perfil da Igreja no país, superando
os anos de silêncio e apatia. Nas últimas semanas, a Igreja no Brasil ficou
mais parecida com a Igreja que as pessoas reconhecem no Papa Francisco, e
assumiu importância na vida nacional, depois de um longo período de
irrelevância. O profetismo e a vinculação com os pobres voltou à cena com
vigor.
Isso não quer dizer que os bispos
progressistas sejam maioria – nem no período auge da Teologia da Libertação o
foram. Continua a haver uma maioria moderada, silente, preocupada com o futuro
da instituição e seu próprio futuro, representada pelo presidente da CNBB, o
cardeal dom Sérgio da Rocha. O polo dinâmico, progressista, alinhado ao Papa
Francisco, tem sua liderança partilhada entre o secretário-geral da CNBB, o
franciscano dom Leonardo Ulrich Steiner e os presidentes e principais
dirigentes das pastorais sociais, como a Comissão Pastoral da Terra (CPT),
Conselho Indigenista Missionário (CIMI), Pastoral Carcerária, Pastoral da Saúde
e Caritas Brasileira – todos eles lançaram convocações à greve. Dentre os
religiosos, os dominicanos, mais engajados durante a ditadura, cedem lugar aos
franciscanos, com um protagonismo alegre e comprometido. Nos momentos de maior
compromisso da Igreja com os pobres no país, houve uma composição entre os
blocos moderado e progressista do episcopado.
Há um polo abertamente
reacionário, comprometido com os interesses dos ricos, minoritário como o progressista.
É liderado pelos cardeais do Rio, dom Orani Tempesta, e de São Paulo, dom Odilo
Pedro Scherer. Não é coincidência que nem eles nem qualquer dos bispos
auxiliares de São Paulo ou Rio tenham se manifestado a favor da greve geral.
Ambos foram os líderes da visita de um grupo de bispos a Temer, e não se cansam
de manifestar simpatia ao governo golpista exatamente no dia da votação da PEC
do Teto dos Gastos (que congelou os gastos sociais no país por 20 anos) – leia aqui.
Observe no quadro abaixo como
está distribuída no país a liderança eclesial progressista. Foram mapeados 93
bispos, distribuídos regionalmente da seguinte maneira: 18 do Norte, 28 do
Nordeste, 6 do Centro-Oeste, 29 do Sudeste e 12 do Sul. O Estado com mais
bispos convocando a população é Minas Gerais, com 19, em parte devido ao
protagonismo de dom Walmor Oliveira de Azevedo, arcebispo de Belo Horizonte –
acompanharam-no na convocação à greve cinco bispos auxiliares de BH. O segundo
Estado com maior presença é o Maranhão, com 9 bispos –uma participação
destacada, num Estado que possui 12 dioceses.
Há um novo desenho da Igreja no país, sob
influxo da liderança do Papa Francisco e em meio a uma brutal ofensiva contra
os direitos dos mais pobres. Este perfil renovado será contemplado pela
Assembleia Geral da CNBB, que acontece até 5 de maio em Aparecida (SP)? Uma
aliança entre progressistas e moderados voltará a dar o tom à Igreja no país?
Fonte: Dom Total
Nenhum comentário:
Postar um comentário