A maioria das mulheres que vivem
no interior das cidades amazônicas carrega uma história de sofrimento e de
violência invisibilizada. Mesmo os diálogos feitos entre as militantes e as
organizações feministas estão fragilizados quando deveriam atuar como “chama
acesa” na luta para tornar essa realidade visível à sociedade.
Abandono e descaso, são essas as
expressões utilizadas por líderes das lutas das mulheres no Amazonas para
situar as condições de vida das mulheres no interior da Amazônia brasileira.
Ampliar direitos e assegurar o cumprimento das conquistas no interior amazônico
ainda significa lidar com impedimentos que separam e distanciam as mulheres de
uma vida com dignidade.
“As ribeirinhas, as trabalhadoras
rurais, enfim as mulheres que vivem no interior do Amazonas não têm política
pública”, afirma a ex-metalúrgica Luzarina Varela da Silva, nascida na
comunidade Paraná da Terra Nova, no município Careiro da Várzea (a 25
quilômetros de Manaus), onde iniciou, ainda menina, as primeiras lutas.
Hoje Luza, como é chamada, é uma
das principais líderes do movimento de mulheres do Amazonas: “Se uma mulher
sofre violência na maioria das cidades do interior, ela não tem onde denunciar;
também não tem onde fazer mamografia ou exames preventivos porque não existem
equipamentos e profissionais para atender essa mulher. Ou seja, falta tudo na
maioria desses lugares e esse tudo é o mínimo”.
Desafios na capital
A realidade torna-se mais
perversa porque é invisível para os que vivem nas capitais e esse é, na opinião
da ativista, um dos grandes desafios das mulheres do interior do Amazonas e da
Amazônia. Luzarina Varela é membro do Movimento de Mulheres Solidárias do
Amazonas (Musas), da Pastoral Operária (PO), integra o Grupo de Trabalho (GT)
de Mulheres do Fórum Brasileiro de Economia Solidária e o Fórum Permanente de
Mulheres de Manaus.
Educadora popular, escritora e
pesquisadora, Fátima Guedes vive no Município de Parintins, região do Médio Rio
Amazonas (a 369 quilômetros da capital amazonense), onde há décadas faz
militância política.
Dificuldades
Para Fátima Guedes, as
dificuldades são várias ordens quando se pensa na construção de uma efetiva
conexão das mulheres organizadas do interior com os movimentos das metrópoles
da Região Amazônica. “Sem essa conexão é muito difícil fortalecer um coletivo
regional para ser parte e enfrentar as lutas no plano local, regional e
global”, afirma.Fundadora da Articulação Parintins Cidadã, ativista do
Movimento de Mulheres da Amazônia e representante municipal da Marcha Mundial
de Mulheres, Fátima tem feito desses espaços de discussão e de reflexão
iniciativas de formação de mulheres e homens e lugar de denúncia do abandono e
da precariedade situações vividas por mulheres dessa região do Baixo Rio
Amazonas.
Dificuldades com o acesso e a distância
Tanto Luzarina quanto Fátima
colocam a geografia amazônica como um complicador na luta de organização e de
estabelecimento de uma comunicação mais efetiva das mulheres. Citam as
distâncias, enormes, o acesso complicado quer seja em relação aos meios de
transporte quer aos comunicação/informação.
“É um esforço gigantesco para
enumerar as reivindicações no âmbito do Estado e buscamos fazer lutas
conjuntas. Nesse sentido, um dos caminhos são as ações no Ministério Público
para assegurarmos o direito de ser ouvidas nas decisões que são tomadas e que
afetam nossas vidas, e para denunciar o descaso. De qualquer forma, nossas
companheiras do interior são tornadas invisíveis. O patriarcado, o machismo e o
capital neoliberal representado pelos governantes que não têm compromissos nem
com mulheres nem com a população ainda detêm força maior”, avalia.
Para Luzarina Varela, no interior
da Amazônia e, de forma mais particular do Amazonas, as mulheres estão mais
distantes de ter a titulação da terra onde vivem e plantam exatamente porque
muitas delas sequer sabem do direito que têm e as informações não as alcançam
de forma efetiva. “Nas capitais, mesmo de forma capenga, temos mais
instrumentos de proteção. Há ônibus da Justiça itinerante; uma rede de combate
à violência; e mais meios de mobilização aos quais podemos recorrer”.
Fonte: http://acritica.uol.com.br/
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