Sozinha, a advogada Jamine
Gonçalves Bedram, 31, decidiu comprar uma briga com o governo de Minas Gerais,
depois que sua empregada doméstica passou a frequentar um presídio para visitar
o filho. A mulher apresentou problemas de saúde após ser submetida às revistas
íntimas na unidade prisional. Um abaixo-assinado será entregue à
Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) e à Corregedoria do Estado, em
breve, pelas mãos da advogada.
O documento reúne assinaturas de
mães de presos que frequentam o presídio de Sabará, na região metropolitana de
Belo Horizonte, e reclamações da maneira como elas são tratadas pelos agentes
penitenciários durante o período dos encontros.
Revolta. Jamine Bedram assumiu a causa após sua funcionária ficar
doente por visitar o filho em presídio
“Vou apresentar essa reclamação
conjunta ao Estado e, se nada for feito, vou entrar na Justiça, porque essas
mães estão ficando depressivas”, explica Jamine, que passou a acompanhar a
rotina de visitas de perto, pois assumiu a defesa do filho da funcionária. A
comoção diante dos depoimentos, choros e tremores da empregada doméstica
impulsionou a iniciativa.
O que talvez Jamine não saiba é
que a briga por uma mudança no método de revista aos visitantes dos presídios é
antiga.
“Nós já procuramos o Estado
várias vezes, e nada foi feito até agora. A revista íntima é muito
constrangedora. As mães (o mesmo se aplica a mulheres e filhas) precisam ficar
completamente nuas e são obrigadas a se abaixarem seis vezes (três de frente e
três de costas) na frente da agente penitenciária, em cima de um espelho,
exibindo as partes íntimas. Também é pedido que façam força, como se estivessem
parindo uma criança, com intuito de verificar se não há nada escondido lá
dentro”, explica Maria Teresa dos Santos, 55, presidente da Associação de
Amigos e Familiares de Pessoas em Privação de Liberdade (GAFPPL).
Segundo Maria Teresa, uma revista
íntima dura em torno de dez minutos, e o tratamento dado aos familiares não é
respeitoso. “Recebemos, em média, 60 denúncias por mês na associação, de
visitantes que relatam algum tipo de desrespeito”, diz.
O presidente do Sindicato dos Agentes
de Segurança Penitenciária do Estado de Minas Gerais (Sindasp-MG), Adeilton
Rocha, defende que as revistas ainda são necessárias, uma vez que nem todas as
unidades prisionais contam com o body scan – equipamento de raio X corporal –
para evitar a revista íntima.
“As pessoas precisam entender que
estão sendo revistadas não para entrar em um cinema, e sim em uma prisão.
Precisamos garantir a integridade física dos visitantes, dos presos e dos
agentes. Nós também queremos alternativas a essas revistas, que nem sempre são
pacíficas”, comenta.
Para Rocha, esse é um debate
“sério”, que precisa ser considerado, uma vez que a superlotação nos presídios
aumenta o fluxo de visitantes nas unidades prisionais. “Só não aumenta o número
de agentes”, finaliza.
Fonte: O Tempo
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