Não importa o candidato à
Presidência que tiver mais votos: algumas companhias garantiram a sua vitória
em outubro.
A um mês do primeiro turno,
alguns vencedores da eleição deste ano estão definidos. Estes ganhadores são
empresas que já garantiram seu poder nos próximos quatro anos,
independentemente de quem lidera as apurações e sairá vencedor das urnas em
outubro. A estratégia delas é pulverizar doações para diferentes candidatos.
Desta forma, terão com o político eleito uma relação de "altruísmo
recíproco", na prática tornando o eleito, não importa quem seja, um
"devedor" da empresa.
Até agora, o frigorífico JBS e as
construtoras OAS e Andrade Gutierrez são os principais doadores das eleições
deste ano. No total, investiram 64 milhões de reais – ou seja, quase quarenta
por cento do recebido por Dilma Rousseff (PT), Aécio Neves (PSDB) e Marina
Silva (PSB) por meio de seus comitês.
Os dados ainda são incompletos.
Eles se referem aos dois primeiros meses da campanha, e a maior parte das
doações acontece no período final da campanha, quando os gastos também
aumentam. Se for mantido o padrão das últimas eleições, esta concentração só
deve piorar.
Nas últimas eleições gerais, a
construtora Camargo Corrêa financiou diretamente 133 candidatos e outros 50
comitês, que espalham o dinheiro para outros candidatos. O espectro ideológico
da sua bancada era abrangente, com políticos que iam do PC do B ao DEM. Desta
forma, os 100,45 milhões de reais investidos pela empresa poderiam bancar a
campanha de todo o Congresso Nacional.
A disputa presidencial também
seguia lógica semelhante. Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) tiveram 78
doadores em comum, responsáveis por quase 70% do valor arrecadado por ambos. No
segundo turno, o eleitor podia escolher entre os dois candidatos, mas as
empresas vencedoras eram as mesmas.
Naquele ano, o ex-bilionário Eike
Batista resumiu a postura do empresariado com uma transparência rara entre os
seus pares. Ele havia doado aos três primeiros colocados na eleição
presidencial: um milhão de reais para Dilma, outro para Serra e meio para
Marina, então no PV. Em entrevista ao programa Roda Viva, Eike explicou que não
poderia deixar seus projetos “atrasarem por razões políticas”. Os projetos de
Eike estancaram, mas ‘razões políticas’ não parecem ter sido o motivo.
Acabar com este poder excessivo
de empresários como Eike no pleito se tornou um objetivo de diversas entidades.
Movimentos sociais fizeram, na última semana, um "plebiscito popular"
pedindo uma reforma política que possa rever a forma como as eleições são
organizadas e financiadas. A OAB, a CNBB e outros grupos têm uma proposta para
acabar com o financiamento privado.
O presidente da OAB, Marcus
Vinicius Furtado Coelho, diz que este financiamento perpetua um problema
nacional. Para ele, o princípio de “um homem, um voto” nunca valeu plenamente
no Brasil. As regras atuais, que estabelecem o limite de dois por cento da renda
anual de uma empresa, não parecem suficientes para equilibrar as eleições.
O caminho mais próximo para mudar
este quadro é o Supremo Tribunal Federal. Seis ministros já votaram
favoravelmente à proibição de doações por empresas, em uma ação direta de inconstitucionalidade
feita pela própria OAB. Até o STF retomar este objeto, porém, o eleitor segue
sem muita opção.
Fonte: Carta Capital
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