Uma das maiores preocupações da população que vive em
Itaquera diz respeito a alguns problemas sociais que aumentaram com a chegada
da Arena Corinthians, segundo relatos de moradores locais.
Os habitantes
acreditam que a prostituição nos últimos anos cresceu, motivada até pelo grande
número de trabalhadores atraídos pela magnitude da obra, com presença inclusive
de crianças que “chegam até a 11 anos de idade”.
Um empreendedor local, que possui há três décadas um
estabelecimento a menos de 1km de onde é erguida a Arena Corinthians, acusou à
reportagem que o ocorrido é diário. “Todos os dias, ao anoitecer, essa avenida
(Miguel Inácio Cury) fica tomada por travestis e prostitutas. Muitas procuram o
pessoal que trabalha nas obras (do estádio), se aproveitando disso. E algumas
delas têm até uns 11 anos de idade”, relatou o homem, que se disse popular no
bairro e preferiu não se identificar. Ele indicou que as meninas seriam
“moradoras das favelas locais”.
“(A prostituição) Fica mais forte à noite. Acho que diminuiu
depois que isso foi divulgado ultimamente, talvez uns 20%, mas ainda existe.
Vejo umas meninas que parecem ter 12 anos”, afirmou outro comerciante que
permitiu a divulgação de seu nome, João Gomes Neto, 61 anos, dono de uma
autopeças conhecida na área. Para ele, Itaquera não melhorou absolutamente nada
com a presença do estádio. “Não saiu praticamente nada do papel”, relatou.
Outro comerciante, este Paulo Mello, 62, não acredita sobre
os benefícios em longo prazo trazidos pela obra. Com uma loja de venda de TV e
aparelhos eletrônicos na Avenida Itaquera, além de alugar um imóvel para um
hotel, o empreendedor reclamou do mesmo tema. “Diziam que iam tirar as
comunidades daí, mas parece que não vão mais”, apontou, indicando sobre a forte
presença de tráfico de drogas nas favelas instaladas na Vila da Paz.
Habitantes acusam de que o tráfico é um dos incentivadores
da prostituição na região. Os moradores e comerciantes locais alertaram que muitas
meninas são viciadas em drogas, como o crack, fazendo o uso da substância
inclusive à luz do dia. Um segurança noturno de um estabelecimento em frente ao
estádio foi mais um a relatar o tema: “rapaz, é todo dia. É só você sair
andando lá para baixo (em direção à Av. Itaquera) que vê muito”.
Em visita à comunidade, a reportagem chegou a ser intimada
de forma agressiva por um usuário, que se irritou com a câmera fotográfica. Em
contato, a secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social aponta
o aumento do tráfico de drogas como causa do crescimento do número de causas de
exploração sexual nos arredores.
O Ministério Público do Trabalho confirma que locais com
grandes investimentos tendem a aumentar o número de casos de prostituição nos
arredores, como acontece em Itaquera, e que o crescimento também do tráfico de
drogas na região dificulta a ação das autoridades. O tema do abuso sexual
infantil perto da Arena Corinthians é, inclusive, alvo de investigação do MPT
desde o mês de janeiro. "A informação é que são seis meninas, vindas de
outros locais, mas elas ainda não foram identificadas. A própria comunidade
refere-se a elas como meninas invisíveis", disse a procuradora Sandra
Simón.
Operários confirmam
prostituição de adolescentes nos arredores
Os funcionários da Arena se esquivaram sobre o assunto ao
saber que se tratava de uma reportagem. Só à paisana, em um carrinho de lanches
na porta do estádio, o Terra conseguiu a confirmação por parte de dois
operários que faziam seus intervalos. “O negócio fica bom após as 18h, 19h,
quando parte do pessoal vai embora. As meninas esperam no caminho para o
metrô”, disse o primeiro deles, que apenas riu e desconversou quando
questionado se já saiu com alguma das garotas.
“Olha, se você passar por ali agora também acha
(prostitutas). Tem muita moça nova”, confirmou outro, minutos depois, em
companhia de mais três que só escutaram a conversa. “Elas só esperam a
‘rapaziada’ sair daqui para ‘dar o bote’”, acrescentou. Perguntado se já pagou
por sexo com alguma delas, fez sinal de negativo com a cabeça, disfarçou e
sussurrou, apontando para a Arena Corinthians: “ah, tem muito malandro aí
dentro que gosta, viu?”.
Posteriormente, a reportagem passou rapidamente de carro
particular pela área no período noturno e viu algumas garotas oferecendo
serviços sexuais. Uma delas abordou o carro, disse se chamar Fabiana e afirmou
ter dezesseis anos – “dezessete em junho”. Não quis responder mais perguntas:
“e aí, vai querer o programa?”. Outra, cerca de 1,50m de altura, aparentemente
embriagada, pedia R$ 20. “Podemos ir em um hotel na rua (Avenida Itaquera) lá
para baixo”, balbuciou, antes de rejeitar informar a idade e alterar o tom de
voz: “quer perguntar ou quer fazer sexo?”.
Como as relações sexuais seriam feitas pelos próprios
operários fora do expediente e das obras da Arena, nem Odebrecht e nem
Corinthians podem ser responsabilizados. Conforme a reportagem apurou,
recentemente a construtora adotou algumas medidas de conscientização e
prevenção do tema com seus funcionários, como o fornecimento aos operários de
transporte do canteiro da obra até a estação de metrô, evitando contato direto
com as prostitutas.
O Terra ainda falou com o vereador Laércio Benko (PHS),
presidente da CPI da Exploração Sexual na Câmara Municipal e um dos maiores
adversários na luta contra a prostituição infantil na capital de São Paulo, que
confirmou a existência do problema nos arredores do estádio e destacou a
preocupação e iniciativa constante das autoridades locais em tentar
solucioná-los. Mesmo assim, apontou que dificilmente não ocorrerão casos
durante o Mundial. "O tipo de pessoa que paga por esse tipo de coisa é
doente, não pode ser tratado de outra forma", destacou.
Fonte : Terra
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