Não é preciso militar no feminismo para combater o machismo.
Basta ter vontade de mudar as coisas – e a melhor forma de começar a fazer isso
é mudando a si mesmo.
Que as ideias feministas estão ficando cada vez mais
populares, disso não há dúvidas. O choro e ranger de dentes de algumas pessoas
inconformadas com o empoderamento das mulheres talvez seja um dos mais
evidentes indícios da popularização do feminismo. Mas isso não significa que as
coisas estejam bem e que nada mais precise ser mudado; pelo contrário: ainda há
muito a ser feito.
Para isso, é preciso fazer mais do que ficar no campo das
ideias. Tomar consciência do machismo e apontar onde ele se manifesta na nossa
cultura é importantíssimo e sempre válido, mas também é possível combatê-lo com
ações práticas no nosso cotidiano. E algumas delas são tão simples que muita
gente já deve praticá-las mesmo sem saber. Claro que nem sempre vai ser fácil
mudar de atitude, mas o poder transformador disso compensa o trabalho.
Neste post proponho um chamado, listando ALGUMAS das
atitudes práticas (aposto que você consegue pensar em outras) que qualquer
pessoa pode adotar no seu dia a dia, para que juntos possamos desconstruir essa
sociedade machista e construir, no lugar, uma sociedade com mais igualdade e
empatia. E aí, vamos nessa?
Ser gentil com qualquer pessoa, independente do gênero, da
cor, da idade – diferente do cavalheirismo, em que só o homem faz algo para uma
mulher, a gentileza não tem gênero. O cavalheirismo é só outro nome para uma
atitude paternalista, que pressupõe que a mulher é incapaz e que precisa de um
homem para abrir a porta, para carregar uma sacola pesada ou coisa do tipo. Já
ser gentil significa que você vai segurar a porta independente de quem estiver
entrando depois de você, seja uma mulher, uma senhora, o porteiro, uma criança
ou um lutador de vale-tudo. Enquanto só um homem pode ser cavalheiro, tanto
homens quanto mulheres podem ser gentis. Ou seja: a gentileza pode ser
praticada por qualquer pessoa em favor de qualquer pessoa. Ser gentil também
significa que você vai fazer algo bom para as pessoas sem esperar nada em
troca, muito menos uma chuva de confetes. Afinal, ser gentil e ter empatia é o
requisito mínimo para um ser humano decente.
Dividir as tarefas em casa – todas as pessoas que vivem numa
casa devem ter a responsabilidade de cuidar dos afazeres domésticos. Não
preciso nem dizer o quanto é machista achar que o dever de fazer essas coisas
seja somente da mulher, né? Lavar a louça, varrer a sala ou estender a roupa no
varal não é uma “ajuda”, mas sim sua obrigação. Da mesma forma que você não
deve ser gentil esperando algo em troca, não dá para achar que você merece uma
medalha simplesmente por fazer o básico que qualquer adulto independente deve
fazer: cozinhar a própria comida, lavar a própria roupa, arrumar a própria
casa. Além disso, dividir igualmente as tarefas domésticas torna mais fácil e
mais rápido manter a casa arrumada e limpa. Experimenta só!
Apoiar outras mulheres – é muito fácil se tornar inimiga da
outra, afinal, somos ensinadas a sempre rivalizar com outras mulheres. Mas toda
vez que você apoia uma mulher, se solidariza com ela, elogia o seu trabalho,
mostra que ela pode contar com você ou mesmo quando fazem algo juntas, um
pedacinho desse mito de que mulheres são inimigas, traiçoeiras e invejosas se
quebra. É importante começarmos a pensar em outras mulheres como nossas
aliadas. Você samba na cara do machismo e ainda pode ganhar uma grande amiga de
bônus.
Permitir que crianças descubram suas habilidades
independente de papéis de gênero – quando dizemos que “menino não pode isso” ou
que “menina não pode aquilo” estamos, desde cedo, limitando os potenciais das
pessoas. Por que em vez de ensinar papéis de gêneros caducos e limitadores, não
ajudamos as crianças a desenvolverem suas habilidades e se tornarem seres
humanos melhores? Por exemplo: incentivar uma garota apaixonada por artes
marciais a praticar esportes de luta, por mais que seja considerado “coisa de
menino”, pode ajudar a criar uma futura atleta. Permitir que um garoto brinque
com boneca, algo que é visto como “coisa de menina”, pode ajudar a criar no
futuro um pai afetuoso.
Denunciar violência – toda vez que um agressor fica impune,
permite-se que a violência continue acontecendo e que outras mulheres sejam
vítimas. É preciso mostrar que agressão, assédio, abuso e outras formas de
violência NÃO SÃO aceitáveis. E a melhor forma de fazer isso é garantir que o
agressor seja responsabilizado pelos seus atos, denunciando. Quando é algo que
você presenciou, é mais delicado e em muitas circunstâncias algo muito difícil,
mas apoiar a vítima e incentivá-la a fazer a denúncia é uma forma de não se
omitir diante da violência.
Não ser cúmplice – você pode combater o machismo fazendo
várias coisas, mas também pode combater NÃO fazendo outras. Não passar adiante
imagens íntimas de mulheres que vazaram contra o consentimento delas, por exemplo
(e denunciar quem esteja fazendo isso, vide tópico anterior). Não assediar
mulheres na rua. Não julgar a sexualidade de uma mulher (porque também não é da
sua conta). Não compartilhar mensagens de ódio à mulher, ou com conteúdo
racista, homofóbico, transfóbico, gordofóbico (e denunciar, se possível). Esses
são só alguns exemplos, mas o mundo está cheinho de coisas machistas que você
pode e deve se recusar a ser cúmplice.
Não é preciso militar no feminismo para fazer nenhuma dessas
coisas. Basta ter vontade de mudar as coisas – e a melhor forma de começar a
fazer isso é mudando a si mesmo. Trabalho de formiguinha acabar com o machismo?
Com certeza. Mas quando for arregaçar as mangas para fazer a sua parte,
lembre-se de que formigas, apesar do tamanho, são assustadoramente fortes.
Fonte: Carta Capital
Nenhum comentário:
Postar um comentário