O papa Francisco afirmou que a Igreja Católica se tornou
"obcecada" com a pregação contra o aborto, o casamento gay e a
contracepção, e que ele escolheu deliberadamente não falar sobre esses assuntos
por entender que ela deve ser uma "casa para todos", e não uma
"pequena capela" focada na doutrina, na ortodoxia e em uma agenda
limitada de ensinamentos morais.
As declarações foram dadas em uma entrevista concedida ao
jornal jesuíta "La Civiltà Cattolica" no mês de agosto, durante três
encontros. O conteúdo da conversa foi divulgado nesta quinta-feira por 16
jornais jesuítas de diferentes países.
"Não podemos insistir apenas em assuntos relacionados
ao aborto, ao casamento gay e ao uso de métodos contraceptivos. Isso não é
possível", disse o papa ao também jesuíta Antonio Spadaro, editor-chefe do
"La Civiltà Cattolica".
O pontífice admitiu ainda que sofre críticas por evitar
tratar desses temas.
"Eu não falei muito sobre essas coisas, e fui
repreendido por isso. Mas, quando falamos sobre essas questões, temos que falar
sobre elas em um contexto. O ensinamento da igreja quanto a isso é claro, e eu sou
um filho da igreja, mas não é necessário falar sobre esses assuntos o tempo
inteiro", acrescentou.
O papa disse ainda que "os ensinamentos dogmáticos e
morais da igreja não são todos equivalentes" e que o ministério pastoral
não deve ser "obcecado" com a transmissão de "doutrinas
desarticuladas que se tenta impor de forma insistente".
"Precisamos encontrar um novo equilíbrio, senão até
mesmo o edifício moral da igreja corre o risco de cair como um castelo de
cartas, perdendo o frescor e a fragrância do Evangelho", disse. "A
proposta do Evangelho tem que ser simples, profunda, radiante. É dessa proposta
que as consequências morais então fluem".
O papa Francisco afirmou ainda que a igreja deve ajudar a
curar "todo o tipo de doença ou ferida". Ele contou que, quando ainda
estava em Buenos Aires, costumava receber cartas de homossexuais que estavam
"feridos socialmente" e que diziam sentir que a igreja sempre os
condenava.
"Mas a igreja não quer isso. Durante meu voo de volta
do Rio de Janeiro [após a Jornada Mundial da Juventude, em julho deste ano], eu
disse que, se um homossexual tem boa vontade e está em busca de Deus, eu não
estou em posição de julgá-lo. A religião tem o direito de expressar sua opinião
a serviço das pessoas, mas, na criação, Deus nos fez livres: não é possível
interferir espiritualmente na vida de uma pessoa".
Fonte: Folha de São Paulo
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