É fácil nos
acomodarmos na prática religiosa, sem deixarmos de questionar pelos chamados
que Jesus nos faz a partir do evangelho que escutamos cada domingo. Jesus está
dentro dessa religião, mas que nos arrasta atrás dos seus passos. Sem darmos
conta, habituamo-nos a viver de forma rotineira e repetitiva. Falta-nos a
criatividade, a renovação e a alegria de quem vive esforçando-se por seguir a
Jesus.
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de
Jesus Cristo segundo João 10, 27-30, que corresponde ao 4º Domingo de Páscoa,
ciclo C do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o
texto.
Era inverno. Jesus passeava pelo pórtico de Salomão, uma das
galerias ao ar livre que rodeavam a grande explanada do Templo. Este pórtico,
em concreto, era um lugar muito frequentado pelas pessoas, pois, ao que parece,
estava protegido contra o vento por uma muralha.
De repente, um grupo de judeus junta-se à volta de Jesus. O
diálogo é tenso. Os judeus perseguem-no com preguntas. Jesus critica-os porque
não aceitam a sua mensagem nem sua atuação. Diz-lhes: “vocês, porém, não querem
acreditar, porque vocês não são minhas ovelhas” (Jo 10,26). Que significa esta
metáfora?
Jesus é muito claro: “Minhas ovelhas ouvem a minha voz, eu
as conheço, e elas me seguem. Eu dou a elas vida eterna” (Jo 10, 27-28a). Jesus
não força ninguém. Ele apenas chama. A decisão de segui-lo depende de cada um
de nós. Só se o escutarmos e o seguirmos, estabeleceremos com Jesus essa
relação que leva à vida eterna.
Nada há tão decisivo para ser cristão como tomar a decisão
de viver como seguidores de Jesus. O grande risco dos cristãos foi sempre
pretender sê-lo, sem seguir a Jesus. De fato, muitos dos que se foram afastando
das nossas comunidades são pessoas a quem ninguém ajudou a tomar a decisão de
viver seguindo os seus passos.
No entanto, essa é a primeira decisão de um cristão. A
decisão que muda tudo, porque é começar a viver de forma nova a adesão a Cristo
e à pertença da Igreja: encontrar, por fim, o caminho, a verdade, o sentido e a
razão da religião cristã.
E o primeiro passo para tomar essa decisão é escutar o Seu
chamado. Ninguém se coloca a caminho atrás dos passos de Jesus seguindo a sua
própria intuição ou os seus desejos de viver um ideal. Começamos a segui-lo
quando nos sentimos atraídos e chamados por Ele. Por isso a fé não consiste
primordialmente em acreditar em algo sobre Jesus, mas em acreditar n’Ele.
Quando falta o seguir a Jesus, cuidado e reafirmado uma e
outra vez no próprio coração e na comunidade crente, a nossa fé corre o risco
de ficar reduzida a uma aceitação de crenças, uma prática de obrigações
religiosas e uma obediência à disciplina da Igreja.
É fácil então nos acomodarmos na prática religiosa, sem
deixarmos de questionar pelos chamados que Jesus nos faz a partir do evangelho
que escutamos cada domingo. Jesus está dentro dessa religião, mas que nos
arrasta atrás dos seus passos. Sem darmos conta, habituamo-nos a viver de forma
rotineira e repetitiva. Falta-nos a criatividade, a renovação e a alegria de
quem vive esforçando-se por seguir a Jesus.
Fonte: Ihu
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