segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Faleceu dom José Rodrigues de Souza, o bispo dos excluídos


Criou pastorais populares. Fez o opção radical pelos pobres e comunidades eclesiais de base. Usava as rádios e seu poder de comunicação para defender os oprimidos pelo peso dos coronéis e do regime militar. Costumava contar que recebeu muitos presentes quando chegou e foi reverenciado pela elite. No terceiro ano ganhou três camisas. No quinto ano ganhou de presente uma única camisa dada por uma prostituta que freqüentava a escola Senhor do Bonfim, trabalho feito junto às prostitutas da cidade.
Sua memória jamais será esquecida por aqueles que com ele conviveram, sobretudo, pelos em situação de pobreza, nos corações dos quais ele reside.



Dom José Rodrigues de Souza, bispo emérito de Juazeiro, Bahia, faleceu a madrugada do dia 09-09-2012, em Goiânia, Goiás, depois de mais de um mês na UTI, em coma induzido, vítima de pneumonia contraída durante tratamento cirúrgico para retirada de água do crânio (hidrocefalia).
 
A informação é do Boletim da CNBB e do sítio Combate ao Racismo Ambiental, 09-09-2012.
Dom José Rodrigues de Sousa era natural de Paraíba do Sul (RJ), mas viveu a infância e adolescência em Aparecida (SP). Ingressou no Seminário dos Redentoristas em 1938.
 Na Congregação Redentorista, atuou como formador, nas Santas Missões Populares e como e superior vice-provincial em Goiás.
Foi nomeado bispo de Juazeiro (BA) em 1974.
Durante seu episcopado, acompanhou a Comissão Pastoral da Terra e a Pastoral da Juventude do Meio Popular no Regional Nordeste 3 da CNBB.
Foi ainda presidente nacional do Conselho Pastoral dos Pescadores. Desde sua renúncia, em 2003, dom José vivia no Convento Redentorista de Trindade (GO).
Ainda em tempos de ditadura, dom José marcou a vida do povo sanfranciscano pela atitude firme e destemida, em defesa dos direitos da população pobre das caatingas, beira do rio e periferias urbanas. As pobres “vítimas do desenvolvimento” (barragem de Sobradinho, projetos de irrigação etc) eram os seus preferidos, como Jesus.
Foi chamado “pequeno grande homem” – e o era! -, mas era mais mesmo o “bispo dos excluídos”!
 
Morreu o profeta do semiárido
Depois de 28 anos em Juazeiro, Bahia, D. José Rodrigues, "saiu com toda a mudança que trouxe: uma mala que cabia uma muda de roupas – que ele lavava todas as noites para vestir no dia seguinte – e seu livro de oração", testemunha Roberto Malvezzi (Gogó), em depoimento publicado no sítio Racismo Ambiental, 09-09-2012.
 Eis o depoimento.
D. José José Rodrigues foi o homem certo, no lugar certo, na hora certa. Quando chegou a Juazeiro para ser bispo, a barragem de Sobradinho estava em construção. Então, ele assumiu a sorte dos relocados, depois dos pobres em geral e nunca mudou. Chegou em 1975.
Aqui era área de segurança nacional, regime militar, ACM governador, prefeitos nomeados pelo presidente da república. Não havia partidos, nem organizações populares. Então, com poucos padres e religiosas, chamou leigos para apoiar os 72 mil relocados. Assim, a diocese foi durante muito tempo o abrigo para cristãos, comunistas, ateus, qualquer um que movido pela justiça assumisse a causa do povo.
Depois enfrentou o período das longas secas. Criou pastorais populares. Fez o opção radical pelos pobres e comunidades eclesiais de base. Usava as rádios e seu poder de comunicação para defender os oprimidos pelo peso dos coronéis e do regime militar.
Quando um gerente do Banco do Brasil foi seqüestrado, ele aceitou ser trocado. Ficou sob a mira dos revólveres por dias, começando sobre a ponte que liga Juazeiro a Petrolina. Depois visitou seus seqüestradores na cadeia e ainda fez o casamento de um deles.
Abrigou na diocese toda convivência com o semiárido, muito lembrado nesses tempos de estiagem. Por isso, quando a ASA fez um de seus encontros nacionais, quis fazê-lo em Juazeiro para homenagear esse profeta do semiárido.
Costumava contar que recebeu muitos presentes quando chegou e foi reverenciado pela elite. No terceiro ano ganhou três camisas. No quinto ano ganhou de presente uma única camisa dada por uma prostituta que freqüentava a escola Senhor do Bonfim, trabalho feito junto às prostitutas da cidade.
Quando foi embora saiu com toda a mudança que trouxe: uma mala que cabia uma muda de roupas – que ele lavava todas as noites para vestir no dia seguinte – e seu livro de oração.
Na celebração de despedida afirmou na catedral: “nunca traí os pobres, nem em época de eleição”.
D. José faleceu nessa madrugada, dia 9 de Setembro, em Goiânia, comunidade redentorista de Trindade, para onde foi depois de 28 anos em Juazeiro.
Seu corpo será transladado para Juazeiro na segunda-feira, onde será enterrado. Aqui, sua memória jamais será esquecida por aqueles que com ele conviveram, sobretudo, pelos em situação de pobreza, nos corações dos quais ele reside.

Fonte: IHu

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