Autoridades e imprensa britânicas já demonstraram
preocupação com o aumento da prostituição e tráfico sexual durante os Jogos
Olímpicos este ano. Batidas policiais em bordéis, particularmente no Leste de Londres, estão levando os trabalhadores do sexo para mais longe de sua rede de apoio de colegas de trabalho e serviços de saúde.
Este tipo de alerta geralmente precede os grandes eventos
esportivos, como Olimpíadas e Copa do Mundo, supondo que gangues internacionais
tentariam tirar proveito do fluxo iminente de espectadores.
Mas será que a prostituição em Londres realmente aumentará
por causa da Olimpíada de 2012?
Tudo indica que, apesar dos temores de que milhares de
mulheres serão traficadas para o país anfitrião para satisfazer os desejos
sexuais das multidões, não há evidências de que a prostituição venha a bater
recordes olímpicos.
'Ímã para o sexo'
Em janeiro de 2010, Tessa Jowell, então ministra para as
Olimpíadas no governo britânico, disse a deputados: "Os principais eventos
esportivos pode ser um ímã para a indústria do tráfico sexual. Isso é
totalmente inaceitável e estou determinada a evitar que os traficantes explorem
Londres 2012".
As suspeitas da ministra ganharam fôlego quando Dennis Hof,
dono do Moonlite Ranch Bunny, um bordel gigante em Nevada, EUA, disse, em maio
deste ano, esperar que Londres receba "1.000 meninas traficadas por
violentas gangues do Sudeste Asiático, albanesas e africanas, envolvidas em
crime e drogas".
'Sensacionalismo'
O relatório também afirma que "o aumento da
prostituição forçada e do tráfico de seres humanos para fins de exploração
sexual durante a Copa do Mundo de 2006 na Alemanha, temido por alguns, não se
materializou", sem "qualquer sinal das supostas 40 mil prostitutas
forçadas - número repetidamente alardeado na mídia internacional".
Simplesmente não há evidências de que esse tipo de coisa
acontece.
E, no entanto, a Copa do Mundo de 2006 tem sido usada como
um exemplo de um caso em que um grande número de prostitutas foi pago para
fazer sexo por um grande número dos participantes do torneio.
Ainda sobre Copas do Mundo, um estudo financiado pelas
Nações Unidas e realizada após o torneio de 2010, na África do Sul, descobriu
que não havia qualquer mudança significativa no número de homens que visitam
prostitutas durante o evento.
Mas a especulação antes daquela edição do torneio era de que
entre 40 mil e 100 mil profissionais do sexo de todo o mundo entrariam na
África do Sul.
Os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de Inverno de 2010,
realizados em Vancouver, no Canadá, também foram objeto de especulação similar
- mas de acordo com um estudo realizado posteriormente por pesquisadores da
Universidade de British Columbia, o tráfico em massa de mulheres não aconteceu.
Muitos usaram as experiências dos gregos, alemães e
sul-africanos para formar um argumento de que Londres terá que se preparar para
um aumento do número de trabalhadores do sexo.
'Algumas evidências'
Por isso, mais do que dois anos depois de ter lançado o
alerta sobre os jogos, a ex-ministra Tessa Jowell, admitiu que "a
inteligência (policial) sugere que é improvável haver tráfico em larga escala
em Londres como resultado dos Jogos".
Jowell também diz que "é difícil saber" se a falta
de evidência para a relação entre eventos esportivos e o tráfico de mulheres
"foi o resultado das medidas que foram postas em prática" por seus
funcionários", ou se simplesmente a ameaça não se materializou.
'Mais vulneráveis'
No entanto, um relatório da própria polícia, publicado em
outubro de 2011, afirma que a "inteligência policial não confirma qualquer
aumento na prostituição nos bairros Olímpicos e mostra, na verdade, uma
diminuição em alguns locais".
Um porta-voz da Scotland Yard diz que o SCD9 foi criado
"com base em avaliações feitas ao longo de três anos atrás". "O
tempo passou e não vimos qualquer aumento no tráfico ligadas com as
Olimpíadas", acrescenta.
Deputado conservador na Assembleia de Londres, Andrew Boff
compilou detalhes do relatório da polícia, e também diz que "não há forte
evidência de que o tráfico para exploração sexual aumente durante eventos
esportivos".
Ele também afirma que as blitz em bordéis aumentaram à
medida que os Jogos Olímpicos se aproximavam, com 80 sendo fechados no distrito
de Newham nos últimos 20 meses.
No entanto, a Scotland Yard negou realização de qualquer
repressão, dizendo "não ter aumentado as operações em bordéis nos cinco
bairros Olímpicos" e que apenas "respondeu às preocupações locais de
moradores e empresas sobre a prostituição de rua".
Uma porta-voz diz que batidas policiais em bordéis,
particularmente no Leste de Londres, estão levando os trabalhadores do sexo
para mais longe de sua rede de apoio de colegas de trabalho e serviços de
saúde.
"Em última análise, prender essas mulheres e invadir
seus locais de trabalho apenas as torna mais vulneráveis", diz ela.
Fonte: BBC Brasil
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