A parábola do fariseu e do publicano é uma penetrante crítica que desmascara uma atitude religiosa enganadora, que nos permite viver ante Deus seguros da nossa inocência, enquanto condenamos, a partir a nossa suposta superioridade moral, todos os que não pensam ou atuam como nós.
A leitura que a Igreja propõe
neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas 18,9-14 que
corresponde ao 30º Domingo do Tempo Ordinário, ciclo C do Ano Litúrgico. O
teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.Eis o texto.
A parábola do fariseu e do
publicano habitualmente desperta, em não poucos cristãos, uma repulsa grande
para com o fariseu que se apresenta ante Deus arrogante e seguro de si mesmo, e
uma simpatia espontânea para com o publicano que reconhece humildemente o seu
pecado. Paradoxalmente, o relato pode despertar em nós este sentimento: “Dou-Te
graças, meu Deus, porque não sou como este fariseu”.
Para escutar corretamente a
mensagem da parábola, temos de ter em conta que Jesus não a conta para criticar
os setores fariseus, mas para sacudir a consciência de “alguns que, tendo-se
por justos, se sentiam seguros de si mesmos e desprezavam os outros”. Entre
estes encontramos, certamente, não poucos católicos dos nossos dias.
A oração do fariseu revela-nos a
sua atitude interior: “Oh, Deus! Dou-Te graças porque não sou como os outros”.
Que tipo de oração é esta de acreditar-se melhor que os outros? Até um fariseu,
fiel cumpridor da Lei, pode viver numa atitude pervertida. Este homem sente-se
justo ante Deus e, precisamente por isso, se converte em juiz que despreza e
condena os que não são como ele.
O publicano, pelo contrário, só
diz: “Oh, Deus! Tem compaixão deste pecador”. Este homem reconhece humildemente
o seu pecado. Não se pode vangloriar da sua vida. Encomenda-se à compaixão de
Deus. Não se compara com ninguém. Não julga os outros. Vive na verdade ante si
mesmo e ante Deus.
A parábola é uma penetrante
crítica que desmascara uma atitude religiosa enganadora, que nos permite viver
ante Deus seguros da nossa inocência, enquanto condenamos, a partir a nossa
suposta superioridade moral, todos os que não pensam ou atuam como nós.
Circunstâncias históricas e
correntes triunfalistas alheias ao evangelho fizeram-nos a nós, católicos,
especialmente propensos a essa tentação. Por isso, temos de ler a parábola,
cada um numa atitude autocrítica: Por que nos acreditamos melhores que os
agnósticos? Por que nos sentimos mais próximos de Deus que os não praticantes?
Que há no fundo de certas orações para a conversão dos pecadores? O que é
reparar nos pecados dos outros sem viver convertendo-nos a Deus?
Recentemente, ante a pergunta de
um jornalista, o Papa Francisco fez esta afirmação: “Quem sou eu para julgar um
gay?”. As suas palavras surpreenderam quase todos. Ao que parece, ninguém
esperava uma resposta tão simples e evangélica de um Papa católico. No entanto,
essa é a atitude de quem vive em verdade ante Deus.
Fonte: Ihu
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