A estudante Ana Julia, 16 anos,
ao discursar na Assembleia Legislativa do Paraná.
Estudante pede em discurso para
que alunos sejam ouvidos sobre reformas na Educação.
A voz da estudante Ana Julia,
embargada pelo nervosismo, foi ouvida atentamente nesta quarta pelos deputados
estaduais do Paraná. Mas chegou rapidamente a milhares de brasileiros, que
partilharam o vídeo do seu discurso de dez minutos, feito na tribuna da
Assembleia Legislativa do Paraná (ALEP), em Curitiba, em defesa do movimento de
ocupação das escolas públicas no Brasil. A secundarista de 16 anos, que estuda
no colégio Senador Manoel Alencar Guimarães, falou pelos alunos que ocupam as
mais de 1000 escolas no país em diversos Estados. “A nossa única bandeira é a
educação. Somos um movimento apartidário, dos estudantes pelos estudantes”,
disse Ana, vestindo a camiseta da sua escola.
Ora brava, ora doce, a jovem
falou em tom de desabafo pelos estudantes que estão enfrentando um verdadeiro
rolo compressor na Educação com a chegada do Governo Temer: as previsões de
cortes de investimentos nas escolas públicas com a PEC 241, uma proposta de
reforma do Ensino Médio com um projeto que não está sendo debatido, e outro que
quer interferir no currículo chamado Escola Sem Partido. “A quem a escola
pertence?”, questionou ela logo de cara, lembrando que o ‘rolo compressor’ das
reformas vai chegar a seus filhos e netos. “A reforma na educação é
prioritária, mas precisa ser debatida, conversada”, defendeu ela na tribuna.
Na Assembleia, a jovem mencionou
a morte de Lucas criando um momento de tensão. “Ontem [quarta-feira] eu estava
no velório do Lucas e eu não me recordo de ter visto nenhum desses rostos aqui
lá”, provocou a garota, voltando-se aos deputados estaduais. "O sangue do
Lucas está na mão de vocês”, disse no único momento em que seu discurso
escorregou. Foi interrompida pelo presidente da Casa, o deputado Ademar Traiano
(PSDB), que afirmou que ela não poderia agredir o parlamentar, e ameaçou
encerrar a sessão. “Aqui ninguém está com a mão manchada de sangue não”,
protestou ele.
Ana Julia se desculpou, mas foi
firme ao explicar porque a morte de Lucas refletia a indiferença do Estado com
o protesto dos estudantes. “Eu peço desculpa, mas o ECA [Estatuto da Criança e
do Adolescente] nos diz que a responsabilidade pelos nossos adolescentes, pelos
nossos estudantes é da sociedade, da família e do Estado”, devolveu Ana Julia,
sob aplausos de outros estudantes que estavam ali.
Sintomático que uma estudante de
Curitiba esteja sensibilizando outros brasileiros. A capital do Paraná, que com
a Lava Jato se tornou símbolo do combate aos descalabros que o Brasil vive,
ganhou uma voz que humaniza o movimento dos secundaristas. Os jovens
paranaenses lideram as ocupações no Brasil, com 850 escolas ocupadas, quase
metade do total no Estado, segundo as contas do Movimento Ocupa Paraná.
A dinâmica das ocupações foi
inaugurada no ano passado por estudantes do Estado de São Paulo contra a reorganização
que o Governo de Geraldo Alckmin planejava para o ensino médio. Neste ano, os
alunos paulistas não conseguem se estabelecer. Duas escolas que foram ocupadas
foram desmobilizadas pela ação da Polícia. Assim, o Paraná virou alento uma vez
mais no Brasil, desta vez com o protesto de jovens por garantir condições
melhores para a Educação.
Fonte: El Pais
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