sábado, 12 de dezembro de 2015

O medo de andar na rua é de todas

Que medo que eu senti ontem a noite quando voltava pra casa. Moro relativamente perto do ponto de ônibus, no quarteirão de trás para ser mais exata, mas essa distância é o suficiente pra me fazer andar com passos apressados e ficar em alerta, e é por esse motivo que sempre fico olhando para os lados, quero saber quem se aproxima, medo de assalto medo de assédio, medo de tudo…

Por  ARIANI MARTINS

 Ontem enquanto virava a esquina um carro branco passou, quando vi que o carro parou no meio da rua eu continuei andando, até que o cara começou a me acompanhar, eu não olhei para o lado, falou comigo mas eu aumentei o volume da música para não ouvir mais nada e continuei andando. Sinceramente eu não lembro se acelerei o passo ou se diminuí, acho que fiquei alternando. Eu não sabia o que fazer, se voltava para trás e pedia ajuda ou se continuava indo pra minha casa, que já estava bem perto, até que finalmente o cara desistiu… Aquele quarteirão não terminava nunca naquele momento, parecia que estava andando em uma esteira. Achei que o cara fosse jogar o carro na minha frente quando fui atravessar a rua.

É assustador quando esse tipo de coisa acontece, você não sabe se vai ficar por isso mesmo ou se vão parar o carro e te enfiar lá dentro. Você não sabe se responde pra “desbaratinar” e não correr o risco de irritar o cara ou se simplesmente sai correndo dali porque se a gente responde, ou mesmo ficando calada, a gente ouve coisas como: vadia, tranqueira, vagabunda e até mesmo que estamos nos achando.
Não frequento balada, aliás não sei como tem mulher que ainda frequenta esses lugares pois é impossível andar sem que alguém pegue no seu cabelo, te segure pela mão ou pelo braço. Bem… na verdade, baladas GLS são as únicas em que você consegue dançar e ser feliz sem que as pessoas passem a mão em você.

Já falei sobre isso a muito tempo atrás no meu tumblr e evito ao máximo usar vestidos quando estou andando sozinha pra não aumentar os meus riscos de sofrer algo na rua. As pessoas querem saber porque eu ando por aí com a cara fechada, cara de brava e poucos amigos, bem, é por isso, é por causa desse tipo de coisa. É pra ver se afasta esse tipo de comportamento.
Penso muitas vezes antes de usar a roupa que quero ou o batom que amo só pra evitar toda essa violência. Tento evitar contatos visuais e sempre desvio de grupos de homens porque me sinto constrangida, morro de medo de andar de Taxi… Uber nem pensar.
Quando vejo meninas/mulheres na rua com short e saia curta, ou mostrando a barriga eu não julgo, pelo contrário, fico com inveja da coragem que elas tiveram para sair daquele jeito.




Tem cara que reclama, dizendo que está apenas desejando bom dia… bom, já fui educada respondendo o bom dia e me arrependi do que veio depois porque nunca é só um bom dia. Você sabe de longe a diferença.

Cantada não é um elogio, é muito diferente, a diferença é gritante na verdade. O que tem por trás não é somente uma vontade de fazer um elogio, se quer elogiar é só fazer isso educadamente, e sim, é totalmente possível! Receber cantada é totalmente incomodo e invasivo, nos deixa com medo e acoadas. É constrangedor e sentimos vergonha de ouvir certas coisas quando estamos simplesmente andando pela rua, indo ou voltando do trabalho, mercado, médico…

Um saco também é só conseguir afastar um cara de você dizendo que está namorando, pois parece ser a única forma de receber respeito por parte deles, parece que se estamos sozinhas nenhuma razão é o suficiente.

“Por baixo do receio que a mulher sente ao rejeitar as investidas de um homem, está o pavor de uma violência física, uma violação sexual, do uso da força como meio para ele conseguir o que deseja. Pode parecer exagero, mas é autopreservação. E, na manifestação do pior cenário possível, é a falta de cautela da mulher é que vai para o banco dos réus.” – (Luíse Bello – Não lhe devemos candura)


Fonte: http://arianimartins.com/

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