Quem nunca ouviu a frase "Fala mais
baixo, ninguém precisa saber que você está naqueles dias" ao pedir um
absorvente pra colega de sala?
Durante meu ensino fundamental,
depois de passar muito pelo "Shiiiiiiiiu, não fale isso alto, você não tem
vergonha?", eu descobri uma série de apelidos que o período menstrual
tinha, por exemplo, "Tô de papai noel", "Tô de chico",
"Tô naqueles dias", "Estou com visitas" e "Sinal
vermelho", entre outros, todos eles com o fim de esconder a menstruação ou
colocá-la com um nome "menos nojento". Os mitos que envolvem a
menstruação são vários, quem nunca ouviu que mulher menstruada não pode arrumar
a cama porque quem deitará naquela cama ficará doente? E não podemos esquecer
dos famosos "mulher menstruada não pode fazer bolo, porque impede que ele
cresça" e do "nesses dias não pode lavar o cabelo não, porque o
sangue vai pra cabeça". Além desses mitos, há também o mito de que a
mulher menstruada tem que ficar de repouso durante o período, e também que a
mulher deve evitar de sair de casa "nesses dias". É fácil perceber
como o corpo designado como feminino e a menstruação são cercados de mitos de
toda espécie. Os últimos dois mitos citados tem um caráter de esconder ainda
mais a mulher, além disso é possível refletir que durante o período menstrual
as regras para as mulheres ficam ainda mais rígidas, como se a menstruação
fosse um castigo.
O período menstrual, na sociedade
patriarcal, é considerado um período de purificação da mulher, a menstruação é
vista como algum impuro, sujo, assim como a mulher, que ao mesmo tempo em que é
glorificada pela maternidade, é odiada em todas as outras formas. As mulheres são
consideradas desde a Antiguidade perigosas, misteriosas, frias e o tabu da
menstruação cresce baseando-se num suposto lado obscuro feminino, que
supostamente é expelido durante a menstruação, e essa ideia é que fomenta a
Bíblia condenar o contato da mulher menstruada com os demais familiares,
lugares e coisas consideradas santas, por considerar o sangue impuro.
E a sociedade contemporânea
compactua com esse pensamento de diversas formas, a menstruação é vista como
algo a ser escondido, algo sujo, imundo e que não deve ser falado,
principalmente com homens cis, porque “eles não precisam saber dessas
nojeiras”. O nojo da menstruação é o nojo do que é considerado feminino, tudo
que faz parte do ciclo menstrual, como o sangue, a vagina, o útero e os ovários
são considerados imundos. E a mesma lógica do nojo da menstruação se aplica ao
nojo da vagina, o constante estímulo comercial de venda de absorventes diários
que teriam a função de despistar o cheiro da vagina, os sabonetes íntimos, a
vinculação da depilação com a higiene são formas de esconder e despistar o
feminino. E o ódio ao nosso corpo está muito vinculado a esse tabu, afinal, a
vagina é considerada feia, incompleta, com cheiros desagradáveis e tem contato
com o sangue de menstruação, com tantos julgamentos a respeito do que é bonito,
feio, bom e mau, conhecer nosso corpo não é nem cogitado.
O tabu da menstruação, a misoginia
e o tabu de sexo estão interligados. A menstruação na nossa sociedade simboliza
que o que vem das mulheres é impuro, a misoginia está na vinculação do que é
feminino ao que cheira mal, é feio, nojento, impuro e por fim, o tabu do sexo.
O sexo com uma mulher menstruada é considerado um "pecado" em
diversas culturas, na maioria delas, os homens que tivessem contato com o
sangue de menstruação também seriam considerados impuros, como as mulheres. Há
diversos mitos sobre o tema, um deles diz que as mulheres que engravidassem
durante o período menstrual teriam filhos-monstros. Em outras culturas
simplesmente é dito que a gravidez ocasionada pelo sexo com contato com sangue
de menstruação originaria apenas filhas mulheres e por isso deveria ser
evitado. O tabu do sexo vai além do sexo com menstruação. O estímulo de
esconder tudo que é vinculado ao sistema reprodutor feminino faz parte da
própria repressão sexual feminina, visto que esconder o ciclo menstrual seria
reforçar que o desejo sexual deve ser escondido. O sexo e o desejo são
considerados pertencentes ao homem cis, enquanto a mulher deve esconder seu desejo
até aparentar não ter nenhum.
Colocar o tema “menstruação” como
algo exclusivamente pertencente ao feminino, evitar tocar no assunto perto de
homens, é sintomático. O corpo da mulher não é dela, o corpo pertence ao que o
homem pensa sobre ele e para haver a libertação é necessário falar sobre, parar
de esconder e se envergonhar do próprio corpo. Falar sobre menstruação, é tomar
para si o desejo, o tesão e sua autonomia.
Observação: nem todas mulheres
menstruam e não somente mulheres menstruam, entenda melhor lendo textos no
"Transfeminismo". Os mitos sobre a menstruação além de misóginos e
machistas, são também cissexistas.
Fonte: http://ativismodesofa.blogspot.com.br/
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