Somente nos dez primeiros meses de 2006, os réus, em
conjunto, já tinham enviado cerca de 40 travestis para prostituição na Europa. Eram
cobrados de cada um, em média, 10 mil euros pelas passagens, hospedagem e
alimentação, além do uso dos pontos de prostituição. Para que não retornassem
ao Brasil sem pagar o que deviam, as vítimas tinham os passaportes retidos. Os
contratos assinados antes da viagem chegavam a incluir bens da família como
garantia. Houve um caso em que, não conseguindo pagar a dívida com suas
atividades no exterior, o aliciado teve que vender a casa de sua mãe ao
retornar ao Brasil.
Luciano Garcia, Maria José Ferreira Matos, Vilmar Rodrigues
Cardoso, Elvis Osório, Aurora Osório Araújo, Wesley Rodrigues Pereira e Marcelo
Carrijo foram condenados pela Justiça mineira por tráfico internacional de
pessoas e prostituição, eles receberam penas que vão de 7 a 19 anos e 6 meses
de prisão.
Segundo o Ministério Público Federal (MPF), os réus levavam
travestis para se prostituírem em países da Europa. A atuação do grupo
criminoso começou a ser desvendada a partir de denúncias, pela Polícia Federal
de Uberlândia, no Triângulo Mineiro, sobre o aliciamento de travestis na região
do Triângulo e Alto Paranaíba.
As investigações resultaram, no dia 18 de outubro de 2006,
na realização da Operação Caraxupé pela Polícia Federal (PF), quando foram
cumpridos mandados de busca e apreensão e dez pessoas foram presas nos estados
de Minas Gerais, São Paulo e Santa Catarina. A PF, na ocasião, descobriu que se
tratavam de três grupos distintos que cometiam o crime.
Na sentença, o magistrado responsável pela sentença afirmou
que existem provas quanto à relação de amizade entre os réus, mas cada grupo
com sua “organização distinta para o exercício de seus negócios escusos,
ilegais e imorais”. Levantamento apontou que somente nos dez primeiros meses de
2006, os réus, em conjunto, já tinham enviado cerca de 40 travestis para
prostituição na Europa.
De acordo com o MPF, os líderes de cada grupo, que também
eram travestis, recrutavam as vítimas em todo o Brasil, por indicações e pela
internet, enviando-as para a Itália e Espanha. Para não despertar suspeitas, os
travestis desembarcavam em Lugano ou Zurique, na Suíça, em Amsterdã, na
Holanda, ou em Paris, na França, onde a fiscalização é menor e eles corriam
menos risco de serem pegos pelas autoridades locais.
Eram cobrados de cada um, em média, 10 mil euros pelas
passagens, hospedagem e alimentação, além do uso dos pontos de prostituição.
Para que não retornassem ao Brasil sem pagar o que deviam, as vítimas tinham os
passaportes retidos. Os contratos assinados antes da viagem chegavam a incluir
bens da família como garantia. Houve um caso em que, não conseguindo pagar a
dívida com suas atividades no exterior, o aliciado teve que vender a casa de
sua mãe ao retornar ao Brasil. Ao serem presos, os acusados possuíam diversos
documentos que comprovavam as práticas criminosas: fotografias, contratos,
extratos bancários, passaportes e passagens para o exterior em nome das
vítimas.
Ainda segundo o MPF, um dos grupos era chefiado por Luciano
Garcia, codinome Luciana Garcia, que enviava travestis e transexuais para
prostituição na Espanha. Luciana contava com o auxílio de Maria José Ferreira
Matos, chamada de Zélia, cabeleireira da rua Augusta, na capital paulista,
responsável pelo aliciamento de novas vítimas. O segundo grupo era chefiado por
Vilmar Rodrigues, codinome Pamela, que recrutava, transportava e fornecia
alojamento a diversas pessoas, principalmente travestis e transexuais, em sua
residência. Em outubro de 2006, quando foi preso, viviam em sua “pensão” ao
menos 16 travestis vindo de diversas partes do Brasil, com todas as despesas de
transporte custeadas por Vilmar, todos à espera do embarque para a Itália.
Segundo as investigações do MPF, Vilmar Rodrigues, que era
conhecido pela violência com que tratava as vítimas que não lhe pagassem pelo
uso dos locais de prostituição e pela hospedagem, era dono de vários pontos de
prostituição em Uberlândia. Ele cobrava cerca de R$ 80,00 por semana para que
os travestis pudessem utilizar os locais. Assim, enquanto aguardavam o
embarque, eles eram obrigados a se prostituírem, numa espécie de “estágio
obrigatório”.
Elvis Osório de Araújo, a Lorraine, liderava o terceiro
grupo. Ele era auxiliado por sua mãe, Aurora Osório, e pelos demais acusados,
Marcelo Carrijo e Wesley Rodrigues, codinome Isadora. Ao contrário de Luciano e
Vilmar, que atuavam apenas com travestis, Elvis também traficava mulheres para
o exterior, principalmente para a Itália, onde comandava cerca de dez pontos de
prostituição. Ele possuía inclusive uma casa em Milão, que era usada para
abrigar aliciados.
Relatório da Situação da População Mundial do Fundo de
População das Nações Unidas (UNFPA) mostra que o tráfico de pessoas é a
terceira atividade ilícita mais lucrativa do mundo, perdendo apenas para o
tráfico de drogas e de armas. O número de vítimas, entre homens e mulheres,
chega a 2,5 milhões.
Fonte: O Tempo
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