As brasileiras estão tendo menos filhos. E estão tendo
filhos cada vez mais velhas. Essas são as conclusões da pesquisa “Saúde
Brasil”, divulgada pelo Ministério da Saúde.
Desde 2005, a taxa de fecundidade brasileira caiu 13,3% e
não supera 2,1 filhos por mulher. Isso indica que daqui a duas décadas, nossa
população deve começar a diminuir.
O número de mães de primeira viagem com mais de 30 anos vem
crescendo: em 2000 elas eram 22,5%. Em 2012, foram 30,2%.
Entre mulheres de maior escolaridade, o índice é maior.
Entre as mulheres com mais de 12 anos de estudo, 45,1% têm o primeiro filho
depois dos 30 anos.
Entre as mulheres com menos tempo de estudo (de quatro a
sete anos), a situação é inversa: 69,4% têm filhos antes dos 20.
Mães jovens também estão mais raras: o índice de mães com
menos de 19 anos caiu de 23,5% para 19,2% no mesmo período.
POR QUÊ?
“O Brasil segue uma tendência observada em países
desenvolvidos, com a inserção ainda mais forte da mulher no mercado de
trabalho, com mais acesso aos métodos anticoncepcionais“, explicou a Diretora
do Departamento de Ações Programáticas Estratégicas do Ministério da Saúde,
Thereza de Lamare.
PARTO “ANORMAL”
O avanço dos métodos contraceptivos indica um movimento
positivo no sentido da saúde da mulher. Mas nem tudo avançou.
Entre os índices coletados na pesquisa, chama atenção o alto
índice de partos cesáreos. A tendência é crescente desde 2000. Em 2012, último
ano coberto pelo estudo, mais de 67% de mães com idade entre 25 e 39 anos
realizaram procedimentos cirúrgicos para dar à luz.
Entre as mães com 12 anos ou mais de estudo, mais de 83%
realizaram parto cesáreo.
O número é muito superior ao índice recomendado pela
Organização Mundial da Saúde (OMS), de 10% a 15%.
As taxas alarmantes levaram a ANS (Agência Nacional de Saúde
Suplementar) a assinar acordos de cooperação com instituições privadas para
desenvolver um projeto piloto de promoção ao parto normal.
Fonte: BrasilPost
Rafael tem dois meses de vida e é o primeiro filho da
jornalista Flávia Lopes, de 32 anos. Casada há cinco anos, ela vive com o
marido em Juiz de Fora (MG) e planejou todo o processo para a chegada do bebê.
Eles esperaram por mais segurança profissional e financeira. A hora certa veio
quando Flávia foi aprovada num concurso público e concluiu o mestrado.
— Havia uma série de etapas profissionais que queria
concluir antes de ser mãe — conta. — Além de ter mais estabilidade, pude contar
com licença maternidade de seis meses.
Não é apenas Flávia que pondera o momento da gravidez. As
mulheres brasileiras estão tendo menos filhos e, quando engravidam, o fazem
cada vez mais tarde. O número de nascimentos caiu 13,3% entre 2000 e 2012,
quando a taxa de fecundidade foi de 1,77 filho por mulher, contra 2,29 em
relação ao período anterior. Além disso, já são 30% das brasileiras que têm o
primeiro filho depois dos 30 anos (sendo de 22,5% em 2000). As conclusões são
da pesquisa “Saúde Brasil”, divulgada ontem pelo Ministério da Saúde.
— Os dados estão refletindo duas grandes revoluções do
século passado: a feminina, quando a mulher passa a optar pela idade da
reprodução; e a da longevidade, com o aumento da esperança de vida — comentou
Laura Machado, da ONG HelpAge Internacional.
POPULAÇÃO BRASILEIRA
ENCOLHENDO
O estudo mostra que desde 2005 a taxa de fecundidade tem se
mantido abaixo de 2,1 filhos por mulher, ou seja, menor do que a necessária
para que a população não venha a diminuir no futuro. Além disso, o índice de
mulheres abaixo de 19 anos com filhos caiu de 23,5% para 19,2%.
Para a diretora do Departamento de Ações Programáticas e
Estratégicas do Ministério da Saúde, Thereza de Lamare Franco Netto, o aumento
da idade para ter o primeiro filho indica aspectos positivos, como maiores
oportunidades no mercado de trabalho e, ao mesmo tempo, traz algumas
preocupações, uma vez que, quanto maior a idade, maior também a dificuldade de
engravidar.
— Elas estão buscando uma estabilidade maior para ter seu
primeiro filho. Isso mostra um avanço nas oportunidades no trabalho e também na
programação da gravidez e no acesso a métodos contraceptivos — exemplifica.
A médica Luciana Nicodemus, de Petrópolis (RJ), seguiu essa
linha de raciocínio. Formada aos 26 anos e casada aos 29, ela preferiu esperar
um bom momento profissional para engravidar pela primeira vez. No ano passado,
aos 36, foi a hora de se preparar para a chegada de Lívia.
— Queria curtir o casamento por alguns anos e estar com a
vida mais estabelecida. Ser mãe mais madura é mais fácil. Acho que essa
maturidade ajuda a conduzir melhor uma boa educação da criança — avalia,
dizendo que ainda planeja mais um filho.
Mas, num país de contrastes e proporções continentais, a
tendência não é homogênea. Nas camadas de menor escolaridade e em regiões menos
desenvolvidas, as famílias são maiores, e as adolescentes ainda têm filhos por
falta de planejamento. A Região Norte está acima da taxa de reposição: 2,24
filhos por mulher, enquanto que a Sul tem a menor taxa: 1,66. As mães com 30
anos ou mais são mais numerosas no Sudeste (34,6%) e no Sul (33,6%). Em seguida
vêm Centro-Oeste (28,8%), Nordeste (26,1%) e Norte (21,2%).
Entre as mulheres com 12 anos ou mais de estudo, 45,1% têm o
primeiro filho depois dos 30. No faixa de menor escolaridade (até três anos de
estudo), 51,4% têm filhos antes dos 20. No grupo entre quatro e sete anos de
estudo, o grupo de mães com filhos antes dos 20 chega a 69,4%.
— Mesmo com uma tendência de queda, a América Latina, com
exceção da África Subsaariana, ainda tem a maior fecundidade da adolescência no
mundo — pondera José Eustáquio Alves, professor da Escola Nacional de Ciências
Estatísticas, lembrando que é alto o índice de gravidezes indesejadas na
adolescência, fruto, diz, do pouco acesso a contraceptivos e da baixa educação
sexual.
Já Laura Machado, da HelpAge, cobra mais políticas para
idosos, visto que a tendência é de envelhecimento:
— A grande questão é: quem vai cuidar de quem? Pois mães
mais velhas, que requisitariam a ajuda das avós na criação dos filhos para se
manterem no mercado de trabalho, precisarão, ao contrário, cuidar tanto de
filhos quanto das mães, já idosas e mais dependentes.
SURTO DE CESÁREAS
Segundo o Ministério da Saúde, esse processo de
envelhecimento vai se intensificar, levando à estabilização do crescimento
demográfico em duas décadas. A partir daí, as perspectivas são de redução da
população do país.
— A população está envelhecendo rapidamente. E isso tem a
ver com a taxa de reposição, que está insuficiente — avalia Thereza de Lamare.
Segundo a pesquisa, de cada quatro nascimentos, em três
houve pelo menos seis consultas de pré-natal, o mínimo recomendado. Entre 2003
e 2012, o número de consultas cresceu 87%. A pesquisa também mostrou aumento de
47% no número de cesarianas entre 2000 e 2012. Os altos números levaram o
ministério e a Agência Nacional de Saúde Suplementar a anunciar há duas semanas
propostas para incentivar o parto normal.
Fonte: www. oglobo.globo.com
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