Desde 2009, mais de 500 meninas e
mulheres foram sequestradas por extremistas. O relato delas mostra casos de
abuso, violência e terror.
Em abril deste ano, homens do grupo extremista
islâmico Boko Haram invadiram uma escola no norte da Nigéria e sequestraram mais
de 200 meninas que estavam no local para fazer uma prova. O caso gerou comoção
internacional, mas não foi uma exceção: o grupo, que luta contra a
"educação ocidental" e quer criar um estado Islâmico na Nigéria, já
sequestrou mais de 500 meninas ou mulheres desde 2009. Seis meses depois do
ataque à escola, as meninas continuam em poder dos extremistas e pouco se sabe
sobre o que aconteceu com elas. Nesta segunda-feira (27), a organização Human
Rights Watch (HRW) publicou um relatório tentando contar essas histórias - e
revela abusos e horror.
A HRW entrevistou 30 meninas que
foram sequestradas pelo Boko Haram e, posteriormente, foram liberadas ou
conseguiram fugir, além de 16 testemunhas. Os relatos foram organizados em um
documento de 63 páginas chamado "Those Terrible Weeks in their Camp"
["As terríveis semanas no acampamento deles"]. O texto mostra que as
meninas foram forçadas a se converter ao Islamismo, a se casar, sofreram abusos
físicos, psicológicos, estupro e foram colocadas em situação de trabalho
escravo.
O relatório mostra que as meninas
viraram alvo do Boko Haram por dois motivos: ou por serem cristãs ou por
frequentarem escolas. Segundo o HRW, nas primeiras ações, o grupo não atacava
especificamente meninas. Essa estratégia passou a ser adotada a partir de 2012.
O ataque na escola de Chibok, em abril, foi a maior ação do grupo. Uma das
vítimas conta como que a questão da conversão era central no discurso dos
homens do Boko Haram. "O líder deles me disse que eu fui levada ao
acampamento porque nós, cristãos, adoramos três deuses. Quando eu contestei
essa informação, eles amarraram uma corda no meu pescoço e me bateram até eu
quase desmaiar. Um rebelde que eu reconheci, porque era da minha vila, me disse
que se eu não aceitasse o Islã, seria morta. Aí eu me converti".
Os relatos de algumas meninas sequestradas
mostram que elas também foram forçadas a trabalhar. Uma delas, por exemplo, era
obrigada a carregar munição e foi ensinada a atirar. Ela conta que, após ser
forçada a assistir a execuções, pensou seriamente em roubar a arma dos rebeldes
e tentar o suicídio. Ourta menina, de apenas 11 anos, contou que foi usada como
isca para um ataque dos extremistas. Ela foi forçada a se aproximar de um grupo
de pessoas e pedir ajuda. Quando os homens foram ajudar, os extremistas
atacaram.
As entrevistas indicam que os
comandantes do Boko Haram proibiam o abuso sexual das meninas sequestradas.
Ainda assim, a Human Rights Watch documentou oito casos de violência sexual. A
maioria dos casos são de estupro após as meninas serem forçadas a casar.
"Após ser declarada casada", diz uma menina de 15 anos, "eu fui
morar em uma caverna com um homem de cerca de 30 anos. Eu sempre o evitava, e
ele passou a me ameaçar com facas e armas e disse que, se eu gritasse, me
mataria".
A estratégia de forçar as meninas
em casamentos está bem documentada no relatório. Em um dos depoimentos, uma
mulher sequestrada em 2013 conta como conseguiu escapar. Ela explica que, ao
saber que seria obrigada a casar, passou a fingir estar sentindo dor.
"Eles ficaram com medo de que eu pudesse ser HIV positivo e me mandaram
testar em um hospital. Foi assim que eu consegui escapar do acampamento".
Segundo a Human Rights Watch, mais
de 7 mil civis morreram, em centenas de ataques do Boko Haram, desde 2009.
Nesta segunda-feira, o governo da Nigéria afirmou que continuam as negociações
para libertar as meninas sequestradas. O Exército anunciou um cessar-fogo com
os terroristas para permitir a libertação, mas em menos de 24 horas o grupo fez
novo ataque no norte da Nigéria, sequestrando mais 60 mulheres.
Fonte: Revista Epoca
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