Mais da metade dos eleitores este ano são mulheres e três
candidatas disputam a presidência. Por que ninguém fala sobre questões
femininas nessas eleições?
Pela primeira vez em uma eleição
para a presidência no Brasil duas mulheres aparecem emboladas na disputa pelo
primeiro turno. Desde que sua candidatura foi lançada, após a morte de Eduardo
Campos, Marina Silva (PSB) disputa, em pé de igualdade, a preferência dos votos
com a presidenta Dilma Rousseff (PT). Outra mulher também está entre os
candidatos, Luciana Genro (PSOL), porém com menos chances de chegar ao segundo
turno, segundo as pesquisas eleitorais.
Com uma representação feminina
deste porte, seria natural esperar que questões de interesse das mulheres
estivessem na agenda do debate eleitoral. Mas na prática, isso não acontece.
Uma pesquisa de 2012, realizada pelo Instituto Patrícia Galvão em parceira com
o Data Popular e SOS Corpo, revelou que serviços de saúde mais eficientes
(97%), transporte público mais eficiente (88%) e escolas em tempo integral para
os filhos (83%) eram as três maiores demandas das mulheres para as próximas
eleições. Hoje, porém, essas questões são tratadas de maneira genérica.
Dos 142,4 milhões de eleitores
que devem votar nas eleições deste ano, 52% são mulheres. Neste ano também, o
número de mulheres que disputam algum cargo nas eleições aumentou 46% em
relação ao pleito de 2010. Além disso, há mais de dez anos as mulheres representam
a maioria da população brasileira, 51%, segundo o IBGE.
Mas os números provam que pouco
adianta ser maioria em um país em a maioria tem menos poder. No âmbito
econômico, a diferença entre os salários pagos para homens e mulheres só
aumenta. Segundo o IBGE, em 2009, os homens recebiam 24% a mais do que as
mulheres. Em 2010, 25% a mais e, em 2012, a diferença subiu para 25,7%. Já na
esfera social, entre 1980 e 2010, 92.000 mulheres foram assassinadas, sendo que
43.700 só na última década, um aumento de 230%.
A candidata do PSOL, Luciana
Genro, é a única que fala abertamente sobre questões como o aborto. Seu
programa de governo tem um tópico inteiro para tratar de questões relacionadas
às mulheres, dividido em dez subtópicos: combate à violência contra a mulher,
aumento da oferta de vagas na educação infantil, legalização do aborto, em
defesa do parto humanizado, pela equidade salarial, aumento do tempo de
licença-maternidade e paternidade, por uma reforma política que fortaleça a
participação feminina, por uma educação não-sexista, mulheres negras e combate
à lesbofobia e transfobia.
Mesmo assim, Genro de longe não é
a candidata mais feminista do país. Sua marca está muito mais no debate
econômico do que de gênero.
A presidenta Dilma Rousseff (PT)
e sua rival Marina Silva (PSB) pouco tocam em assuntos de interesse da mulher.
No chamado programa de governo de Rousseff – o PT ainda não entregou o seu
programa de governo completo – o texto se refere à Casa da Mulher Brasileira
como algo decisivo para combater a violência e promover a igualdade entre as
mulheres. Em 42 páginas, essa é a única menção às mulheres no programa de
Rousseff.
Já no programa de governo de
Marina Silva, há um capítulo específico para as mulheres, que trata de
propostas como a “criação de um Fundo de Políticas Públicas para as Mulheres” e
“apoiar a formalização do trabalho feminino”, e outras propostas mais vagas,
como “estimular a criação de creches em todo o país”, algo que, sem números,
fica difícil mensurar.
Embora o gênero tenha sido pouco
explorado para discutir propostas, as candidatas não deixam de usar da condição
de ser mulheres quando lhes convém. Marina Silva chegou a dizer que “não vai
agredir outra mulher”, quando começou a ser alvo de ataques de Dilma Rousseff.
A presidenta, por sua vez, já se defendeu das críticas que fazem ao seu jeito
autoritário, rebatendo que “só porque é mulher”, deveria ser doce. E que se
fosse um homem ninguém a questionaria nesse sentido.
Fonte: El Pais
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