Recorrer ao gênero não implica por si só pensar em uma
insignificância da diferença biológica; significa estar consciente de que toda
diferença fisiológica e genética nunca pode ser pensada sem a leitura cultural.
A opinião é da teóloga italiana Serena Noceti, professora da
Faculdade Teológica da Itália Central, responsável pela catequese de adultos da
Diocese de Florença e membro da Associação Teológica Italiana. O artigo foi
artigo publicado na revista Jesus, de maio de 2014. A tradução é de Moisés
Sbardelotto.
Eis o texto.
Nos últimos meses, muitas vozes do mundo católico se
levantaram para condenar a "ideologia de gênero", depois do incidente
da cartilha Unar para as escolas. Não entro no mérito da questão específica,
mas considero necessária uma reflexão crítica sobre os estudos de gênero, que
ilustre fatores que levaram à emergência história da categoria, das
características e das perguntas que ela levanta, para captar a fluidez do
conceito e identificar os seus diversos usos, sem se achatar em uma condenação
geral de algumas posições e sem se limitar a uma demonização a priori do termo.
É determinante, de fato, o modelo antropológico
interpretativo da identidade humana e das relações (também institucionalizadas)
que é adotado. O conceito de gênero fez a sua aparição nos Estados Unidos na
metade dos anos 1970 para indicar a determinação no plano cultural das
diferenças físicas, biológicas, genéticas (definidas pelo termo
"sexo").
Gênero expressa a ideia de que a identidade de mulheres e de
homens nunca é rigidamente determinada unicamente pela dimensão física e
biológica, mas é sempre expressada em um quadro cultural e linguisticamente
definido. O tema, depois, foi pensado em relação à educação e ao exercício do
poder na sociedade.
A partir dos anos 1980, desenvolveram-se "teorias
(radicais) de gênero", em que o gênero é destacado totalmente do
"sexo"; a identidade não é definida a priori nem pela biologia, nem
pelo gênero em sentido histórico-cultural, mas é sujeita a infinitas mudanças
possíveis.
São evidentes os riscos de desagregação da identidade humana
inerentes a essas teorias radicais, denunciados, além disso, pelo Magistério.
Essas teorias de gênero representam um resultado, não o único.
Recorrer ao gênero não implica por si só pensar em uma
insignificância da diferença biológica; significa estar consciente de que toda
diferença fisiológica e genética – de homens e de mulheres, porque não estamos
falando apenas de feminino – nunca pode ser pensada sem a leitura cultural.
A pergunta pela identidade se coloca no cruzamento entre
"natureza" e "cultura" sem reduções indevidas unicamente ao
dado da diferença biológica e sem restrições a leitura de "papéis
sociais" que são derivados da biologia.
Fonte: Ihu
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