sábado, 31 de agosto de 2013

Sem excluir


Uma vez mais Jesus se esforça por humanizar a vida quebrando, se preciso, esquemas e critérios de atuação que podem parecer respeitáveis, mas, no fundo, mostram nossa resistência a construir esse mundo mais humano e fraterno, querido por Deus.

A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas 14, 1. 7-14 que corresponde ao 22º Domingo do Tempo Ordinário, ciclo C do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.

Jesus participa de um banquete convidado por “um dos principais fariseus” da região. É servida uma comida especial de sábado, preparada desde a véspera com grande esmero. Segundo o costume, os convidados são amigos do anfitrião, fariseus de grande prestígio, doutores da lei, modelo de vida religiosa para todo o povo.

Aparentemente Jesus não se sente à vontade. Nota a falta de seus amigos, os pobres. Aquelas pessoas que estão mendigando pelos caminhos. Os que nunca são convidados por ninguém. Aqueles que não fazem parte: os excluídos da convivência, os esquecidos pela região, os depreciados por quase todos. São eles os que geralmente se sentam à sua mesa.

Antes de despedir-se, Jesus se dirige àquele que o convidou. Não é para dar graças pelo banquete, senão para chamar sua atenção e convidá-lo a viver um estilo de vida menos convencional e mais humano. “Não convide amigos, nem irmãos, nem parentes, nem vizinhos ricos, porque esses irão, em troca, convidar você... Convide pobres, aleijados, mancos e cegos. Então você será feliz! Porque eles não lhe podem retribuir. E você receberá a recompensa na ressurreição dos justos”.


Uma vez mais Jesus se esforça por humanizar a vida quebrando, se preciso, esquemas e critérios de atuação que podem parecer respeitáveis, mas, no fundo, mostram nossa resistência a construir esse mundo mais humano e fraterno, querido por Deus.
Frequentemente vivemos instalados num círculo de relações familiares, sociais, políticas ou religiosas que nos ajudam a cuidar de nossos interesses, deixando fora os que não podem contribuir com nada. Convidamos a fazer parte de nossa vida os que, por sua vez, podem nos convidar. Isso é tudo.

Somos escravos de relações interesseiras, não somos conscientes de que o nosso bem-estar apenas se sustenta com a exclusão dos que mais necessitam de nossa solidariedade gratuita, simplesmente para poder viver. Devemos escutar os gritos evangélicos do Papa Francisco na pequena ilha de Lampedusa: “A cultura do bem-estar, que nos leva a pensar em nós mesmos, torna-nos insensíveis aos gritos dos outros”. “Caímos na globalização da indiferença”. “Perdemos o sentido da responsabilidade fraterna”.

Os seguidores de Jesus devem lembrar que abrir caminhos para o Reino de Deus não quer dizer construir uma sociedade mais religiosa ou promover um sistema político alternativo possível para outros, mas, acima de tudo, é gerar e desenvolver relações mais humanas que tornem possível condições de vida que sejam dignas para todos, começando pelos últimos.

Fonte: Ihu

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