Para Adélia Prado, a poesia é uma possibilidade para
qualquer pessoa. É como a graça, pode acontecer para qualquer um, porque a
poesia é gratuita. Ela é inspiração divina. O caminho místico é o caminho do
sentido. Deus é a principal poesia e a própria Criação é uma criação poética de
Deus. “Poesia sois Vós, ó Deus. Eu busco vos servir”, escreve.
Há anos, o Cepat/CJ-Cias vem promovendo uma reflexão
vivencial dos místicos cristãos e de suas contribuições para que nos dias
atuais se possa redescobrir os aspectos essenciais da vida e de seu sentido
mais profundo a partir da experiência cristã. A esse esforço deu-se o nome de
Rezar com os Místicos. Nomes clássicos da mística cristã, como São João da
Cruz, Santo Inácio de Loyola, Santa Teresa de Ávila, entre outros, já foram
temas deste espaço de encontro e de acolhida, sempre realizado durante um dia
todo, na Casa do Trabalhador, em Curitiba.
Neste último sábado, dia 24 de agosto, ousou-se partir da
experiência de vida cristã da poetisa mineira Adélia Prado, com a assessoria da
professora de teologia da PUC-Rio, Mônica Baptista Campos, que fez um estudo
intitulado ““A poesia me salvará”. Mística e afeto para uma cristologia
teopoética na obra de Adélia Prado”. A partir da contribuição da poetisa
mineira, Campos apresentou e encantou a todos os participantes com a possibilidade
de uma experiência sensível e aberta à vivência cristã no cotidiano do tempo
presente.
A reportagem é de Jonas Jorge da Silva e as fotos de Ana
Paula Abranoski, ambos da equipe do Cepat/CJ-Cias.
A assessora enfatizou que em suas poesias Adélia Prado
consegue captar os pequenos detalhes, enxergando o fundamental nas coisas do
cotidiano. Sua poesia é a expressão da beleza presente na vida. É por esse
caminho que ela entende a Deus. Para ela, experiência mística e experiência
poética são uma mesma realidade.
Adélia Prado retoma a dimensão do belo e do encantamento com
a vida, perdida todas as vezes que no cristianismo houve um estreitamento do
olhar para uma visão meramente racionalista e lógica do mundo. A mística na
obra da poetisa é o inundar-se, sem querer decifrar, mas deixando-se envolver
pelo mistério.
A poetisa escreve o que vive. Nunca optou pelo burburinho,
abrindo mão do assédio daqueles que querem dissociá-la da complexidade que é a
própria vida simples, elementar. Na experiência de um mosteiro, por exemplo,
considera o porteiro e o cozinheiro aqueles com maiores possibilidades da
vivência mística. “Deus está entre as panelas”, escreve a poetisa.
No mundo da apatia, para a poetisa sentir é fundamental.
Essa sua sensibilidade é fruto de sua própria condição. Aquilo que escreve não
nasce de uma intelectualidade esvaziada de vida. Ela é uma mulher comum. É mãe
de cinco filhos, tem medo de viajar de avião, foge do glamour e preserva a
cultura do interior. Além disso, foi professora, catequista e sempre apreciou
uma boa liturgia. Portanto, os principais temas e aspectos da literatura de
Adélia Prado são: a condição da mulher, a forte impregnação da religiosidade
cristã e do cotidiano doméstico, familiar e social.
Para Adélia Prado, a poesia é uma possibilidade para
qualquer pessoa. É como a graça, pode acontecer para qualquer um, porque a
poesia é gratuita. Ela é inspiração divina. O caminho místico é o caminho do
sentido. Deus é a principal poesia e a própria Criação é uma criação poética de
Deus. “Poesia sois Vós, ó Deus. Eu busco vos servir”, escreve.
Nas obras “O pelicano” e “A faca no peito”, a professora
Mônica Campos encontrou a cristologia de Adélia Prado. Nelas está presente uma
mística da encarnação. Deus está no mundo, não está fora. A transcendência
mora, pousa nas coisas. Em sua poesia, Jonathan é o codinome para Jesus. Assim,
a poetisa percebe a encarnação de Deus como uma experiência afetiva. Se em
nossa tradição a experiência corporal foi muito recalcada, aqui, ela a resgata.
A mística cristã é o encontro com a pessoa de Jesus, que possui um corpo.
Há em Adélia Prado uma contundente crítica à tentativa de
eliminar a condição corporal do ser humano. Escreve: “Entre as pernas geramos e
sobre isso se falará até o fim, sem que muitos entendam: erótico é a alma”.
Desta forma, a poetisa não abre mão da dimensão da beleza de Jonathan (Jesus).
O belo atrai, é força erótica e sedutora. A beleza gera alegria, gozo e prazer.
Ama-se a Deus porque este amou primeiro. A poetisa resgata o valor da dimensão
erótica da vida, sem contrapô-la à experiência cristã. Trata-se de uma força de
atração, um desejo de união com o outro. Essa força gera vínculos de saudade. É
uma fonte de ternura e Jesus Cristo, neste sentido, é a expressão do Deus afetivo,
do Deus-conosco, que possui uma relação de intimidade com o ser humano.
Foi um sábado excepcional para todos os participantes. Ao
longo do dia, a professora Mônica Campos dinamizou sua assessoria com a
distribuição de “pílulas de poesia”, com espaço de interiorização e com a
distribuição de poesia por todo o local do encontro. Um momento forte de
encontro, sintonia e celebração da vida cristã.
Fonte: Ihu
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