Nas vésperas do Dia Internacional
da Mulher, dados de 2016 da Secretaria de Estado de Segurança Pública de Minas
(Sesp-MG) revelam que, a cada hora, 14 mulheres sofreram violência doméstica no
Estado.
Na análise regional, o Triângulo Mineiro se destaca tanto positiva
quanto negativamente. Enquanto a microrregião de Uberaba teve a taxa mais alta
de Minas, a microrregião da vizinha Uberlândia apresentou os índices mais
baixos.
A área de segurança de Uberaba,
chamada também de Triângulo do Sul, apresentou uma taxa de 796 casos para cada
100 mil habitantes – número bem acima da média do Estado, de 600. Já na área de
segurança de Uberlândia, conhecida como Triângulo do Norte, o índice foi de
445.
A gerente do Centro de Referência
da Mulher de Uberaba, Juciara Moura, explica o que poderia justificar o fato de
regiões tão próximas terem números tão diferentes. Para ela, o perfil mais
agrário da região de Uberaba pode ter influenciado. Municípios que compõem a
região contam com áreas de grandes lavouras, como as plantações de
cana-de-açúcar para usinas de álcool, que precisam de trabalhadores homens de
outras regiões para a colheita.
“Esses homens chegam à região e logo se
relacionam com as mulheres daqui. Alguns deles mantêm outras famílias no local
de onde saíram. Esse relacionamento novo e muito instável acaba gerando um
número maior de casos de violência”, afirmou Juciara.
Capital. No total, Minas
registrou no ano passado 126.710 ocorrências de violência doméstica, 2% menos
que em 2015, quando foram 129.391. Em Belo Horizonte, a queda foi ainda mais
tímida: os casos de violência doméstica caíram de 15.224, em 2015, para 14.960,
em 2016, uma redução de 1,74%.
A coordenadora do Núcleo de
Estudos e Pesquisas sobre a Mulher da UFMG, Marlise Matos, afirma que ainda é
cedo para a redução. “Houve uma queda ainda tímida. Precisamos acompanhar os
próximos levantamentos para saber se há de fato uma tendência de redução desses
casos de violência ou se é apenas uma variação sazonal. Mas não deixa de ser um
bom sinal”, analisou. Marlise destaca ainda que, como a variação foi pequena, é
muito cedo para falar que alguma política pública pode ter influenciado no
resultado.
Transparência
Dado. Apesar da redução tímida, a
coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre a Mulher da UFMG, Marlise
Matos, comemora que hoje há pelo menos transparência na divulgação das
ocorrências.
SAIBA MAIS
Homicídios. Os assassinatos de mulheres caíram de forma mais
significativa que a violência doméstica em geral em Minas. A redução foi de
16,2%, passando de 590 ocorrências, em 2015, para 494, em 2016. Já em Belo
Horizonte, foram 75 em 2015 contra 47 no ano passado, queda de 37%.
Mais comuns. A violência física é a mais comum em Minas – foram
59.188 ocorrências em 2016. Em seguida aparece a violência psicológica, com
53.696.
Prisão. Sete homens foram presos
nessa segunda-feira (6) na capital pela operação Ártemis (deusa grega), em ação
pelo Dia Internacional da Mulher.
Os mandados foram expedidos com
base na Lei Maria da Penha. Alguns suspeitos tiveram o mandado cumprido por
desrespeito de medida protetiva e outros porque representam perigo à vida da
vítima.
PERFIL
Companheiro e ex são responsáveis por 69% dos abusos
Dados divulgados pela Secretaria
de Estado de Segurança Pública revelam ainda que 72% das mulheres vítimas de
violência doméstica no ano passado não tinham o ensino médio completo e que os
companheiros ou ex-companheiros delas são responsáveis por 69% dos casos de
violência.
Segundo a coordenadora do Núcleo
de Estudos e Pesquisas sobre a Mulher da UFMG, Marlise Matos, a participação de
maridos e cônjuges nos atos violentos é uma tendência que se repete em todas as
estatísticas de violência contra a mulher. Já com relação à escolaridade das
vítimas, Marlise acredita que pode haver uma subnotificação dos casos de
mulheres que tenham um nível maior de estudo.
“O nível de escolaridade acaba
refletindo também na renda. E essas mulheres com mais tempo de estudo muitas
vezes não fazem ocorrência, pois buscam amparo em outros lugares. Essa mulher
tem uma independência maior para pôr fim ao relacionamento ou buscar proteção e
amparo na família, ou no terapeuta”, explica.
Marlise destaca que ainda há
gargalos com relação a políticas públicas para reduzir os índices de violência
contra a mulher. “A rede que envolve a proteção da mulher envolve a assistência
social, a segurança pública e a saúde. Mas esses órgão atuam de forma
independente, sem conversar, sem pensar uma política conjunta”, finalizou. (BM)
Tipificação
Entenda. A violência doméstica é
caracterizada quando ela ocorre no ambiente familiar. Ou seja, entre indivíduos
unidos por algum grau de parentesco, como o marido ou o pai.
Fonte: O Tempo
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