terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Epifania: Jesus manifestado a todos os povos


Desde o primeiro instante, portanto, Jesus provoca decisão diante de sua pessoas. Não se pode ficar neutro diante d'Ele: ou se é a favor ou contra. Os pobres pastores e os sábios do Oriente que buscam e desejam a salvação são a favor. Os poderosos que querem reinar sozinhos e oprimir os outros são contra. Até hoje é assim. A história se repete e Jesus se manifesta como luz que ilumina a alguns e cega a outros. Sua epifania nos chama hoje como sempre a viver na verdade.


Maria Clara L. Bingemer*

 Uma das características principais do cristianismo é sua universalidade. Desde o começo, a Igreja entendeu que em Jesus de Nazaré, Deus não se tinha encarnado apenas para um grupo limitado de pessoas, para um único povo escolhido. Mas, pelo contrário, que a Encarnação de Deus em Jesus Cristo era para toda a humanidade. E a salvação, portanto, que Jesus trazia se destinava não apenas ao povo judeu ou àqueles e àquelas que foram os primeiros discípulos de Cristo. Mas pretendia alcançar o mundo inteiro, toda a humanidade.
Neste sentido, o Natal é uma festa que mostra com muita beleza e luminosidade esta grandeza e universalidade. O Menino que nasce num lugar pequeno, escondido e humilde, de uma mulher simples, e que tem que se refugiar num estábulo para poder vir ao mundo na verdade traz consigo o segredo do desejo de Deus de manifestar-se a todos os homens e mulheres de todos os lugares e de todos os tempos.
Por isso é que o Natal passou a celebrar-se no dia 25 de dezembro, quando no hemisfério norte se celebrava a festa pagã do Sol Invicto. Os cristãos queriam dizer com isso que Jesus é o sol invencível que ilumina toda criatura que vem a este mundo. E assim como o sol nasce e brilha para todos, assim Jesus nasceu para todos e todas e se manifesta a todos e todas. A festa da Epifania, ainda dentro do Tempo do Natal, nos relembra esta universalidade da manifestação do Senhor. Aliás, a palavra "epifania", do grego epiphanei, pelo latim epiphania. Significa, segundo o Dicionário Aurélio, Aparição ou manifestação divina. E também Festividade religiosa com que se celebra essa aparição.
Nós, que vivemos depois de Jesus Cristo, celebramos esta festa chamando-a também de "Dia de Reis". Neste dia (6 de janeiro) comemoramos a adoração do Menino Jesus pelos Reis Magos (Baltasar, Melchior e Gaspar).

O capítulo 2 do Evangelho de Mateus nos conta a linda história dos magos e sábios que acompanharam a estrela que viram no Oriente e foram atrás dela para encontrar o Salvador.
1 Tendo Jesus nascido, em Belém da Judéia, no tempo do rei Herodes o , eis que magos o vindos do Oriente chegaram a Jerusalém 2 e perguntaram: Onde está o rei dos judeus que acaba de nascer? Vimos o seu astro no oriente o e viemos prestar-lhe homenagem. 3 A esta notícia, o rei Herodes ficou perturbado, e toda Jerusalém com ele. 4 Reuniu todos os sumos sacerdotes e os escribas do povo o , e inquiriu deles o lugar onde o Messias devia nascer. Em Belém da Judéia, disseram-lhe eles, pois é isto o que foi escrito pelo profeta: 6 E tu, Belém, terra de Judá, não és decerto a menos importante das sedes distritais de Judá: pois é de ti que sairá o chefe que apascentará Israel, meu povo o . 7 Então Herodes mandou chamar secretamente os magos, inquiriu deles a época exata em que aparecera o astro, 8 e os enviou a Belém dizendo: Ide informar-vos com exatidão acerca do menino; e, quando o tiverdes encontrado, avisai-me para que também eu vá prestar-lhe homenagem. 9 A estas palavras do rei, eles se puseram a caminho, e eis que o astro que tinham visto no oriente o avançava à sua frente até parar em cima do lugar onde estava o menino. 10 À vista do astro, sentiram uma alegria muito grande. 11 Entrando na casa, viram o menino com Maria, sua mãe, e prostrando-se, prestaram-lhe homenagem; abrindo seus escrínios, ofereceram-lhe por presente ouro, incenso e mirra o . 12 Depois, divinamente avisados em sonho de que não tornassem a ir ter com Herodes, retiraram-se para sua pátria por outro caminho." (Mt 2, 1-11)

Este evangelho nos revela várias coisas sobre o Menino Jesus cujo Natal recentemente celebramos. E a primeira é que ele já nasce correndo perigo. Nem bem nasceu, pequenininho e sem lugar nem para dormir, o poderoso rei Herodes já quer matá-lo. É desde sempre que a injustiça luta contra a justiça, que os poderosos deste mundo perseguem aqueles que podem representar concorrência ou ameaça a eles. Herodes se apavora quando ouve mencionar outro rei que não ele mesmo. E deseja matá-lo, eliminá-lo da sua frente. Os magos, porém, eram homens sábios. Procuravam o lugar de onde viria a salvação e por isso seguiam a estrela que poderia mostrar-lhes o caminho.
Ao buscar por longo tempo onde estava o menino, o sinal de que o haviam encontrado foi a estrela haver parado sobre a casa onde ele se encontrava. E também a alegria interior que os magos sentiram. O que esperavam ver aqueles homens ricos e sábios vindos do Oriente? Será que esperavam encontrar luxo e poder n¹Aquele que acreditavam ser o Salvador de toda a humanidade? Em todo caso, não lhes foi mostrada outra coisa do que o menino com Maria, sua mãe. Os magos diante do Menino manifestado a eles que vinham de tão longe, do outro lado do mundo, fazem o gesto da fé: se ajoelham e adoram o Menino. Depois disso, o Evangelho nos conta que os magos abrem os seus tesouros e cofres e dali tiram presentes para dar ao Menino.
Recordando essa tradição, em muitos países ainda hoje o dia de trocar presentes não é o dia 25 de Dezembro, a noite de Natal, mas o Dia de Reis. Todos se tornam um pouco Reis Magos, e oferecem presentes porque na verdade receberam o maior de todos os presentes: Deus mesmo que se fez carne humana para nos salvar. Esses presentes dos magos revelam muito sobre a identidade d’Aquele que acabara de nascer. O ouro simbolizava sua realeza. O Menino era verdadeiramente Rei. O incenso simbolizava sua divindade. Aquele Menino frágil e pobre era Deus, Deus verdadeiro. A mirra simbolizava sua humanidade. Aquele recém-nascido, embora Rei e Deus verdadeiro, era verdadeiramente homem, vulnerável e mortal como todos os homens. Diante de tão grande mistério manifestado em epifania tão luminosa, os que deram presentes é que sairam presenteados. Se ajoelharam, adoraram o Menino e voltaram felizes para casa, desviando-se do caminho onde estava Herodes, cheio de intenções assassinas em relação ao Menino.
Desde o primeiro instante, portanto, Jesus provoca decisão diante de sua pessoas. Não se pode ficar neutro diante d'Ele: ou se é a favor ou contra. Os pobres pastores e os sábios do Oriente que buscam e desejam a salvação são a favor. Os poderosos que querem reinar sozinhos e oprimir os outros são contra. Até hoje é assim. A história se repete e Jesus se manifesta como luz que ilumina a alguns e cega a outros. Sua epifania nos chama hoje como sempre a viver na verdade.


* Teóloga.
Fonte: Adital

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