Desde o primeiro instante,
portanto, Jesus provoca decisão diante de sua pessoas. Não se pode ficar neutro
diante d'Ele: ou se é a favor ou contra. Os pobres pastores e os sábios do
Oriente que buscam e desejam a salvação são a favor. Os poderosos que querem
reinar sozinhos e oprimir os outros são contra. Até hoje é assim. A história se
repete e Jesus se manifesta como luz que ilumina a alguns e cega a outros. Sua
epifania nos chama hoje como sempre a viver na verdade.
Maria Clara L. Bingemer*
Uma das características principais do
cristianismo é sua universalidade. Desde o começo, a Igreja entendeu que em
Jesus de Nazaré, Deus não se tinha encarnado apenas para um grupo limitado de
pessoas, para um único povo escolhido. Mas, pelo contrário, que a Encarnação de
Deus em Jesus Cristo era para toda a humanidade. E a salvação, portanto, que
Jesus trazia se destinava não apenas ao povo judeu ou àqueles e àquelas que
foram os primeiros discípulos de Cristo. Mas pretendia alcançar o mundo
inteiro, toda a humanidade.
Neste sentido, o Natal é uma
festa que mostra com muita beleza e luminosidade esta grandeza e
universalidade. O Menino que nasce num lugar pequeno, escondido e humilde, de
uma mulher simples, e que tem que se refugiar num estábulo para poder vir ao
mundo na verdade traz consigo o segredo do desejo de Deus de manifestar-se a
todos os homens e mulheres de todos os lugares e de todos os tempos.
Por isso é que o Natal passou a
celebrar-se no dia 25 de dezembro, quando no hemisfério norte se celebrava a
festa pagã do Sol Invicto. Os cristãos queriam dizer com isso que Jesus é o sol
invencível que ilumina toda criatura que vem a este mundo. E assim como o sol
nasce e brilha para todos, assim Jesus nasceu para todos e todas e se manifesta
a todos e todas. A festa da Epifania, ainda dentro do Tempo do Natal, nos
relembra esta universalidade da manifestação do Senhor. Aliás, a palavra
"epifania", do grego epiphanei, pelo latim epiphania. Significa,
segundo o Dicionário Aurélio, Aparição ou manifestação divina. E também
Festividade religiosa com que se celebra essa aparição.
Nós, que vivemos depois de Jesus
Cristo, celebramos esta festa chamando-a também de "Dia de Reis".
Neste dia (6 de janeiro) comemoramos a adoração do Menino Jesus pelos Reis
Magos (Baltasar, Melchior e Gaspar).
O capítulo 2 do Evangelho de
Mateus nos conta a linda história dos magos e sábios que acompanharam a estrela
que viram no Oriente e foram atrás dela para encontrar o Salvador.
1 Tendo Jesus nascido, em Belém da Judéia, no tempo do rei Herodes o ,
eis que magos o vindos do Oriente chegaram a Jerusalém 2 e perguntaram: Onde
está o rei dos judeus que acaba de nascer? Vimos o seu astro no oriente o e
viemos prestar-lhe homenagem. 3 A esta notícia, o rei Herodes ficou perturbado,
e toda Jerusalém com ele. 4 Reuniu todos os sumos sacerdotes e os escribas do
povo o , e inquiriu deles o lugar onde o Messias devia nascer. Em Belém da
Judéia, disseram-lhe eles, pois é isto o que foi escrito pelo profeta: 6 E tu,
Belém, terra de Judá, não és decerto a menos importante das sedes distritais de
Judá: pois é de ti que sairá o chefe que apascentará Israel, meu povo o . 7
Então Herodes mandou chamar secretamente os magos, inquiriu deles a época exata
em que aparecera o astro, 8 e os enviou a Belém dizendo: Ide informar-vos com
exatidão acerca do menino; e, quando o tiverdes encontrado, avisai-me para que
também eu vá prestar-lhe homenagem. 9 A estas palavras do rei, eles se puseram
a caminho, e eis que o astro que tinham visto no oriente o avançava à sua
frente até parar em cima do lugar onde estava o menino. 10 À vista do astro,
sentiram uma alegria muito grande. 11 Entrando na casa, viram o menino com
Maria, sua mãe, e prostrando-se, prestaram-lhe homenagem; abrindo seus
escrínios, ofereceram-lhe por presente ouro, incenso e mirra o . 12 Depois,
divinamente avisados em sonho de que não tornassem a ir ter com Herodes,
retiraram-se para sua pátria por outro caminho." (Mt 2, 1-11)
Este evangelho nos revela várias
coisas sobre o Menino Jesus cujo Natal recentemente celebramos. E a primeira é
que ele já nasce correndo perigo. Nem bem nasceu, pequenininho e sem lugar nem
para dormir, o poderoso rei Herodes já quer matá-lo. É desde sempre que a
injustiça luta contra a justiça, que os poderosos deste mundo perseguem aqueles
que podem representar concorrência ou ameaça a eles. Herodes se apavora quando
ouve mencionar outro rei que não ele mesmo. E deseja matá-lo, eliminá-lo da sua
frente. Os magos, porém, eram homens sábios. Procuravam o lugar de onde viria a
salvação e por isso seguiam a estrela que poderia mostrar-lhes o caminho.
Ao buscar por longo tempo onde
estava o menino, o sinal de que o haviam encontrado foi a estrela haver parado
sobre a casa onde ele se encontrava. E também a alegria interior que os magos
sentiram. O que esperavam ver aqueles homens ricos e sábios vindos do Oriente?
Será que esperavam encontrar luxo e poder n¹Aquele que acreditavam ser o
Salvador de toda a humanidade? Em todo caso, não lhes foi mostrada outra coisa
do que o menino com Maria, sua mãe. Os magos diante do Menino manifestado a
eles que vinham de tão longe, do outro lado do mundo, fazem o gesto da fé: se
ajoelham e adoram o Menino. Depois disso, o Evangelho nos conta que os magos
abrem os seus tesouros e cofres e dali tiram presentes para dar ao Menino.
Recordando essa tradição, em
muitos países ainda hoje o dia de trocar presentes não é o dia 25 de Dezembro,
a noite de Natal, mas o Dia de Reis. Todos se tornam um pouco Reis Magos, e
oferecem presentes porque na verdade receberam o maior de todos os presentes:
Deus mesmo que se fez carne humana para nos salvar. Esses presentes dos magos
revelam muito sobre a identidade d’Aquele que acabara de nascer. O ouro
simbolizava sua realeza. O Menino era verdadeiramente Rei. O incenso
simbolizava sua divindade. Aquele Menino frágil e pobre era Deus, Deus
verdadeiro. A mirra simbolizava sua humanidade. Aquele recém-nascido, embora
Rei e Deus verdadeiro, era verdadeiramente homem, vulnerável e mortal como
todos os homens. Diante de tão grande mistério manifestado em epifania tão
luminosa, os que deram presentes é que sairam presenteados. Se ajoelharam,
adoraram o Menino e voltaram felizes para casa, desviando-se do caminho onde
estava Herodes, cheio de intenções assassinas em relação ao Menino.
Desde o primeiro instante,
portanto, Jesus provoca decisão diante de sua pessoas. Não se pode ficar neutro
diante d'Ele: ou se é a favor ou contra. Os pobres pastores e os sábios do
Oriente que buscam e desejam a salvação são a favor. Os poderosos que querem
reinar sozinhos e oprimir os outros são contra. Até hoje é assim. A história se
repete e Jesus se manifesta como luz que ilumina a alguns e cega a outros. Sua
epifania nos chama hoje como sempre a viver na verdade.
* Teóloga.
Fonte: Adital
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