Uma manifestação diferente e em clima da Copa do Mundo
chamou a atenção de quem passou pela conhecida rua Guaicurus, no centro de Belo
Horizonte, na tarde do sábado (14). A Associação das Prostitutas de Minas
Gerais (Aprosmig) organizou uma ‘pelada’ (jogo de futebol) no meio da rua para
exigir do poder público a regulamentação do registro da profissão em um espaço
físico.
A manifestação pacífica das prostitutas teve inicio por
volta das 15h. Elas fecharam a Rua Guaicurus (principal ponto de prostituição
em Belo Horizonte) e o trânsito se complicou. Educadamente, os manifestantes
pediam para que os motoristas desviassem por outro ponto, pois ali aconteceria
um movimento. Em minutos a polícia chegou para organizar os carros e ônibus que
se bagunçaram na Rua São Paulo – paralela a Guaicurus.
Do momento que a via foi fechada, até o inicio da partida, a
organização do protesto apenas pintou as linhas que marcaram a quadra, fez os
gols com quatro cones, e liberou para o time “Peladas Futebol Clube” os
uniformes. De acordo com Maria Aparecida Vieira, presidente da Associação das
Prostitutas de Minas Gerais (Aspromig), a ideia da manifestação é ter mais
direitos dentro da profissão.
De acordo com a presidente da Aprosmig, há algum tempo
surgiram rumores de que as profissionais seriam tiradas de seu lugares de
trabalho e a partir desse momento surgiu a ideia da manifestação. “Com o início
da Copa do Mundo e com a suspeita de retirada das meninas de seus postos,
decidimos fazer o jogo de futebol em protesto”, declarou.
Estudantes da UFMG, que também apoiaram a manifestação e
colocaram em “quadra” o “Delicinha Futebol Clube”, também ajudaram na
organização da "pelada". Segundo a estudante de Ciências Sociais
Vanessa Sander, a causa é justa.
“A gente apoia sim, prostituição é um trabalho digno, tem
gente que acha falta de vergonha, mas elas não têm muitos direitos e trabalham
em condições ruins. Então temos que apoiar”, confirmou.
“É algo simbólico o que estamos fazendo. Uma Copa do Mundo
aqui no Brasil, a gente joga bola na rua, queremos além de apoiar as
prostitutas, mostrar que não concordamos com várias coisas que estão
acontecendo”, disse o estudante Marcelo Borel.
Partida terminou empatada em 6 a 6.
A partida começou. Os estudantes da UFMG começaram o jogo
melhor, mas as prostitutas completadas por missionárias da Casa Jocum
conseguiram a reação. Curiosos serviram de gandulas em alguns momentos e
técnicos em outros. O resultado, porém, foi muito maior que o empate em 6 a 6.
O festival de risadas das cerca de 300 pessoas que ficaram
ao redor da quadra assistindo a pelada, além da sensação de dever cumprido ao
conseguir o objetivo de dar o grito de forma bem-humorada, e sem violência,
valeu muito para as mulheres de Aspromig.
Apesar dos vários curiosos que pararam para assistir a
partida e o bom resultado do protesto, Maria Aparecida lamentou o pouco número
de prostitutas na rua para juntar ao movimento. “Conseguimos o objetivo. Vamos
fazer outros. É um protesto com bom humor, sem violência. Hoje já iniciou uma união,
não tivemos muitas meninas aqui, pois algumas têm medo da mídia, e também
escondem de seus familiares, são casadas e têm filhos. Mas já demos o primeiro
passo”, finalizou.
A americana Genny Jack, de 35 anos, que faz parte do Jocum,
que trabalha contra o tráfico humano, veío para passar a Copa no Brasil e
ajudar nas atividades. “Nossa ideia é dar amor a essas meninas sem fazer
julgamento. Se elas quiserem rezar, nós rezamos. Se elas quiserem conversar,
nós conversamos. Não estamos aqui para mudar a vida delas, mas, a penas para
dar esperança e mostrar que elas têm valor”, contou a voluntária.
Fonte: O Tempo e Terra
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