Bloco Então Brilha tem como ponto
de partida a Rua Guaicurus, reduto de prostíbulos no centro da capital
mineira (Bloco Então Brilha/Divulgação)
O debate político é combustível
para blocos como o Então Brilha que, em 2011, organizou uma bateria para
desfilar e escolheu como ponto de partida uma via marginalizada do centro da
cidade, a Rua Guaicurus, reduto de prostíbulos. No último carnaval, ele arrasta
cerca de 80 mil foliões. O ponto de referência do bloco é o Hotel Brilhante,
uma das muitas casas de prostituição no local.
A escolha não é ao acaso. Os
participantes do Então Brilha defendem a diversidade e a inclusão das minorias.
Letras de músicas famosas são subvertidas. Em vez de cantar o amor de Romeu e
Julieta, os integrantes exaltam o amor de Romeu e Romeu e de Julieta e Julieta.
“As pessoas ocuparam as ruas, mas ainda há um questionamento sobre quem está na
rua. Porque o carnaval é puxado e feito em sua maioria pela classe média.
Então, hoje a gente precisa pensar outras questões: como enegrecer os blocos,
como aproximar a periferia da festa, dar voz às minorias”, avalia Di Souza,
maestro do Então Brilha.
Para quem gosta de pular
carnaval, ficar em Belo Horizonte não era das opções mais atraentes até alguns
anos atrás. O desfile das escolas de samba e algumas poucas atrações
mobilizavam um público pequeno. O cenário, no entanto, mudou, e o número de
blocos de rua da capital mineira não para de crescer. Segundo a Empresa Municipal
de Turismo de Belo Horizonte (Belotur), os festejos deste ano, que começaram
hoje (11), terão 416 desfiles de 350 blocos cadastrados, 30% a mais que 2016.
Além dos moradores locais, a
cidade espera cerca de 500 mil turistas. Eles passarão a fazer parte de uma
história que remete a janeiro de 2010, quando movimentos de ocupação do espaço
público começaram a se manifestar de forma lúdica contra ações da gestão
municipal. A principal queixa se relacionava com o Decreto Municipal
13.798/2009, assinado pelo então prefeito Márcio Lacerda, que proibia a
realização de eventos de qualquer natureza na Praça da Estação, no centro da
cidade.
A reação veio na forma do evento
Praia da Estação, convocado pelas redes sociais. Centenas de pessoas, sobretudo
artistas e universitários, se reuniram em um sábado para um piquenique na Praça
da Estação. Os mais animados, vestidos de sungas e biquínis, se aventuraram a
tomar banho nas fontes de água. A Praia da Estação começou a se repetir pelos
fins de semana posteriores. O decreto foi revogado em maio de 2010, mas, até
lá, a mobilização já tinha virado carnaval.
Foi deste movimento lúdico que
diversos blocos surgiram de forma espontânea em 2010, com epicentro no bairro
de Santa Tereza. Eles se juntaram aos pioneiros Tico Tico Serra Copo e Peixoto,
que haviam desfilado em 2009. O objetivo era ocupar as vias públicas de forma
festiva. Em 2011, os desfiles de aproximadamente 20 blocos chamaram a atenção
dos moradores. De 2012 em diante, o número de blocos só cresceu.
Reivindicações
Os participantes levavam para os
desfiles faixas, estandartes, cartazes e camisas com pautas de diversos
movimentos que se propõem a repensar a cidade, tais como a tarifa zero nos
ônibus, a regularização das ocupações de sem tetos e o combate ao preconceito
racial, ao machismo e à homofobia. “Quando a luta pelo uso do espaço público
ganhou a cidade, outros movimentos sociais perceberam que também podiam usar a
folia para dar visibilidade para suas pautas”, avalia a cineasta Dandara
Andrade, diretora do documentário BH no Ritmo da Luta, que aborda o
ressurgimento dos blocos de rua em Belo Horizonte.
Fonte: Agência Brasil
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