quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Aumenta a exploração sexual infantil em Goiânia

O telefone toca. Do outro lado, uma voz um tanto nervosa. Uma mulher. Faz questão de não ser identificada. Quer fazer uma denúncia, segundo ela, “muito séria”. Não espera nem mesmo perguntar contra ou sobre o que e começa a desfiar seu rosário de queixas. “É impressionante o número de adolescentes (e até crianças) entrando e saindo dos motéis, estes que ficam aqui, próximo a Aparecida de Goiânia”, despeja, para em seguida lamentar: “O pior é que não se vê ninguém, nem polícia, nem Conselho Tutelar, nem Ministério Público, ninguém mesmo, fazendo alguma coisa para coibir esta prática.”


A mulher queixosa não dá tempo sequer para uma pergunta e vai logo dizendo: “Meu marido trabalha de vigia em um desses motéis, mas nada pode fazer, pois se o fizer perderá o emprego e não teremos como cuidar de nossos filhos. Ele me conta que fica envergonhado ao ver, no início da noite, aqueles homens chegando com meninas e meninos escondidos nos porta-malas ou pelos vidros escuros do banco de passageiros. Ele sabe, conhece muito bem quando o(a) acompanhante é menor de idade. Trabalha faz tempo na área”, reclama.

Ela lembra que, recentemente, leu reportagem no Diário da Manhã que revela a existência de pelo menos 120 pontos de exploração sexual infantil e que estes mesmos pontos seriam alvos de alertas por parte da Polícia Militar. “Mas, depois disso, não ouvimos mais nada acerca do assunto. Espero que não tenha caído no esquecimento.”

Rosa, vamos chamá-la assim, diz que a polícia até que passa nas redondezas, “mas não faz nada, não tem abordagem alguma, talvez pelo fato de os veículos serem de luxo e seus condutores homens tidos como de ‘bem’ no meio social. É uma vergonha. Tem político, tem gente graúda e até religiosos envolvidos neste esquema. A prática da pedofilia é constante”, diz.

A mulher continua com sua perplexidade. A voz embargada sugere, inclusive, que tenta segurar o choro de revolta. “Não acredito que as forças policiais não tenham conhecimento dessas barbaridades. É tudo feito às claras. O entra e sai dos motéis é constante. Ou será que o luxo dos carros ofusca a vista de quem deveria zelar pela segurança da população? Só pode ser isso”, afirma.

Rosa, no entanto, acredita que nem tudo está perdido e lembra que, em 2013, o comandante 15º Comando Regional de Polícia Rodoviária (15º CRPM), coronel Carlos Antônio Borges, adotou um projeto idealizado pelo 1º sargento, Rosemário justamente para tentar coibir a prática da pedofilia e da exploração sexual de crianças e adolescente, criando, inclusive, um canal voltado a atender denúncias acerca deste crime, que é o Disque 198, que atende diuturnamente.

Nos seis meses de implantação, o sargento Rosemário e outros integrantes do 15º CRPM têm realizado palestras, visitado escolas, conversado com taxistas e caminhoneiros, com mototaxistas e outros profissionais no sentido de esclarecer a todos sobre os males da pedofilia e da exploração sexual de crianças e adolescentes.

“Ainda assim, acho que é como uma andorinha desgarrada do bando, não faz verão. Uma ação como essa deveria receber um apoio maior. O envolvimento deveria ser de toda comunidade, principalmente dos governantes e suas forças de segurança. Não é possível saber da existência de uma situação como essa e ficar de braços cruzados, esperando que algum familiar ou uma pessoa comprometida com a moralidade, com a cidadania e a civilidade, provoque a autoridade oferecendo denúncia, que na maioria das vezes só chega ao conhecimento policial depois do fato ter se concretizado”, lamenta Rosa.

Campanha

O Diário da Manhã ouviu o 1º sargento Rosemário Pereira de Castro, da Polícia Rodoviária Estadual (PRE) responsável pelo Projeto Rede de Apoio a Segurança (RAS) Não Desvie o Olhar, desenvolvido pelo Comando do Policiamento Rodoviário (15º CRPM), em andamento, há mais de seis meses. Ele garante que o 15º CRPM está fazendo a sua parte, e tem procurado conscientizar motoristas acerca do assunto através de outdoors da campanha espalhados em Goiânia e Região Metropolitana, além de ter firmado parcerias com taxistas, caminhoneiros, postos de combustíveis, motéis e toda a sociedade goiana, na denúncia contra a prostituição e exploração sexual infantil, por meio de ligações feitas para a emergência nas rodovias goianas, através dos telefones 198 e 100.

De acordo com ele, Goiás é o quarto Estado brasileiro com o maior número de denúncias de prostituição e exploração sexual infantil. “O comandante do 15º CRPM abraçou o Não Desvie o Olhar, no Estado de Goiás, por entender que a luta contra a prostituição e exploração sexual infantil é nossa obrigação, como cidadão e policial militar e não queremos, nestas condições, ver Goiás engrossando essa estatística”, diz.

Ele explica que a Polícia Militar do Estado de Goiás é a primeira, a nível de Brasil, a disponibilizar um telefone de emergência para receber denúncias de exploração sexual infantil durante as 24 horas do dia. “O nosso projeto é único e gostaríamos muito que todas as polícias militares do País disponibilizassem um telefone (198) para denunciar esse tipo exploração”, declara o militar.

De acordo com ele, já foi feito um levantamento de todos os pontos de exploração sexual em Goiás. “Hoje, nas rodovias goianas, nós identificamos aproximadamente 120 pontos de exploração sexual infantil, os quais não podem ser divulgados para não prejudicar as investigações”, esclarece.

O sargento Rosemário garantiu que a RAS planeja, em 2014, firmar novas parcerias com as escolas, para a realização de palestras sobre o assunto, voltada para o público entre 12 e 18 anos. Outra novidade apresentada pelo projeto é a parceria com o Laboratório Público Municipal de Aparecida de Goiânia, que disponibilizará atendimento, das 7h às 19h, para a realização de exames de DST, para menores de idade, com a autorização dos pais, e público em geral. “Para maiores esclarecimentos, as pessoas podem entrar em contato com a doutora Daniela Fabiana, responsável.

Fonte: DIÁRIO DA MANHÃ (Antéro Sóter)

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