Por Margarete Amorim¹
Dia 8 de março de1857, época da revolução industrial, 130 trabalhadoras de uma fábrica de tecidos de Nova Iorque foram violentamente reprimidas ao ocuparem a fábrica, numa reivindicação por melhores condições de trabalho. Como repressão, a fábrica foi incendiada e todas morreram carbonizadas.
Somente em 1975, em homenagem a essas mulheres, a ONU oficializou esse dia como o dia internacional da mulher. Portanto, é uma data em que movimentos em defesa dos direitos da mulher intensificam suas manifestações, denunciam a violação a esses direitos, assim como festejam suas conquistas.
Qual o sentido atual de ainda se manter esse dia? Qual a condição da mulher no mundo atual, que avanços, que retrocessos podemos reconhecer?
Desde a época industrial, passando pelo movimento feminista, até atualmente, a luta pelos direitos e pela cidadania da mulher teve muitas conquistas. Viemos de um período, não muito distante, em que a mulher não podia trabalhar fora; quando o conseguiu, foi em situação de carga horária e de salário sempre inferiores aos dos homens; inicialmente, não podia estudar, depois, lhe foi permitido cursar apenas o ensino fundamental e só mais tarde, o superior; não podia votar; sofreu preconceitos ao se tornar divorciada, ou melhor, "separada" (quando ainda não existia o divórcio). Foi oprimida e reprimida no desenvolvimento de seu potencial.
Atualmente, esse panorama mudou para melhor em muitos aspectos. Em outros, continua quase igual. Em alguns, até pior. A mulher hoje se encontra em quase todas as frentes de trabalho, inclusive, em maior número que os homens em algumas; mas suas condições salariais ainda são menores; muitas fazem jornada dupla (uns dizem que tripla), pois têm que continuar a jornada de trabalho em casa, onde nem sempre as tarefas são divididas igualitariamente. Têm mais acesso ao estudo e se qualificam cada vez mais. Podem votar e participam ativamente da política, ocupando cargos no legislativo e no executivo.
Existem políticas públicas voltadas para sua promoção. A mulher divorciada é mais respeitada, em geral; conquistou maior autonomia e liberdade. Mas, também podemos presenciar situações controversas, avanços convivendo com desrespeitos e atitudes indignas.
Em alguns países, mulheres ainda têm seus órgãos sexuais mutilados; são apedrejadas e condenadas à morte por "traírem" seus maridos; não podem ter acesso aos estudos; são mercadorias de troca; são "escravas" do mercado sexual; é grande o número de violência física contra as mulheres, especialmente, a realizada por seus maridos; sofrem preconceitos em certos tipos de trabalho e desvantagens várias com relação aos homens. Ainda recaí sobre elas o cuidado dos filhos e da casa.
Como se pode ver, não há lugar para enganos: o mundo é mais dos homens, e as mulheres são consideradas "seres inferiores" que precisam lutar por igualdade de direitos, respeito e dignidade. Essa luta é de toda a sociedade, inclusive, dos homens de bem. O primeiro passo nessa luta é a própria mulher conhecer a história das mulheres em nossa sociedade. Grande parte não conhece essa história e é presa fácil na manutenção desse funcionamento social opressor e que mantém as coisas tal qual estão, sem mudança alguma. O segundo passo é indignar-se com tamanha injustiça. O terceiro passo é agir: buscando sua própria libertação e se unindo a todos os aliados e aliadas que querem um mundo sem preconceitos e igualitário, em que mulheres e homens sejam solidários em suas diferenças. Esse novo mundo não pode ser posto no futuro. Ele se atualiza em cada atitude que se tem agora. Esse agora será o nosso amanhã.
* "Ô Abre Alas" foi a primeira marcha carnavalesca do país, escrita por uma mulher, Chiquinha Gonzaga (compositora, pianista e maestrina).
1- Margarete Amorim é psicóloga clínica e organizacional; analista institucional, esquizodramatista, presidente da Fundação Gregório Baremblitt e mestra em educação.
Texto publicado no Jornal Grito Mulher - edição nº 106/março de 2009
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