Vista de longe, a fotografia
repleta de pétalas convida à aproximação. Quando vista mais de perto, é
possível notar que as flores estão prestes a se decompor e presas por
alfinetes. Poesia e dor se misturam na obra Guerra na Paisagem do Lar, da
caribenha Jamie Lee Loy, um dos destaques em uma exposição sobre violência de
gênero que começa a correr mundo a partir do Brasil.
A mostra 1 em 3 – O que é Preciso
para Você se Indignar? se baseia em um dado revoltante: uma em cada três
mulheres em todo o mundo, ou cerca de 800 milhões, vão apanhar, serão forçadas
a ter relações sexuais ou sofrer qualquer outra forma de abuso ao longo de suas
vidas, de acordo com o levantamento realizado pela Organização Mundial da Saúde
(OMS) em 2012.
São agressões que machucam o
corpo, mudam a forma de essas pessoas se relacionarem com o mundo e influenciam
as 53 obras de arte em exposição no Senado até 30 de abril. Os trabalhos foram
criados não só por mulheres que sofrem ou veem a violência no dia a dia, mas
também por homens.
“Era importante ter artistas de
ambos os gêneros para evitar algo comum em qualquer evento sobre o tema: focar
somente na mulher e esquecer que o homem também é parte do problema e da
solução”, avaliou Marina Galvani, curadora de arte do Banco Mundial, à frente
da organização da mostra.
Ao todo, 30 artistas integram a
exposição. Três delas são da América Latina e do Caribe: além de Jamie Lee,
nascida em Trindade e Tobago, participam a colombiana Beatriz Mejía-Krumbein e
a chilena Francisca Valenzuela.
Risco triplo
A maior parte das obras vem de
lugares onde ser mulher, fazer arte e ainda por cima falar de violência de
gênero representam um perigo muitas vezes fatal. Entre eles, Afeganistão,
Iêmen, Irã e Paquistão, só para mencionar alguns.
Esse risco fez com que Galvani e
sua equipe mudassem a forma de trabalhar: em vez de abrir um edital para
convocar os artistas, fizeram pesquisas e entraram em contato diretamente com
os criadores das obras. Todo o processo teve o apoio de ONGs, fundações e
organismos internacionais, como a ONU Mulheres.
“Sabemos o quanto é comum os
artistas serem ameaçados ou caírem no ostracismo em seus países por abordarem
temas espinhosos”, comenta a curadora. Os assuntos a que ela se refere incluem
as agressões cometidas por parceiros, o tráfico de seres humanos, os conflitos
armados e os casamentos precoces.
São temas tratados de forma ora
brutal – como no vestido de noiva ensanguentado feito por Hem Matsi, da Namíbia
–, ora sutil, como nas flores alfinetadas da caribenha Jamie Lee. De um jeito
ou de outro, são imagens angustiadas, poderosas, que de fato levam à
indignação.
Depois do Brasil, a mostra
seguirá para Senegal, Nigéria, França, Alemanha, Inglaterra, Bangladesh e
Índia.
Fonte: El Pais
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