quinta-feira, 17 de julho de 2014

Garotas de programa fazem ponto no Centro de São Paulo alegando ser menores de idade

Quem passa diariamente pelo Largo do Paissandu, no Centro de SP, não custa a encontrar, atrás da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, prostitutas que convidam os que estão por perto para fazer um programa. Quando questionadas sobre sua idade, algumas  chegam a admitir que têm 17 anos.


Apesar da aparência de menina não é possível comprovar se elas estão falando a verdade, mas só o fato de admitirem ser menores de idade merece uma averiguação da polícia para constatar se, de fato, há casos de exploração sexual infantil.

Os programas variam entre R$ 70 e R$ 100 e são realizados em hotéis nas proximidades, que são indicados pelas próprias mulheres. E tudo isso ocorre em plena luz do dia e a poucos metros de uma base móvel da Polícia Militar, que localizada em frente à igreja.
Nas três horas em que o DIÁRIO esteve no largo, os policiais deram informações a pessoas perdidas e mandaram motoristas que estavam parados em locais proibidos saírem de onde estavam, mas em nenhum momento eles percorreram a parte de trás da igreja.

O convite para o programa é feito a praticamente qualquer homem que passa e a questão da idade preocupa pouco. “Eu ando bastante por aqui, você pode passar a partir das 10h que elas já estão apoiadas na árvore ou na parede lateral da igreja. Outro dia uma delas ficou falando “psiu, psiu” e sorrindo para mim. Eu segui em frente. Não sei se elas são menores de idade, mas tem umas bonitas lá”, diz o office boy J.R.S.S., de 16 anos.

É importante lembrar que prostituir-se não é crime, mas explorar a prostituição e incentivar que menores de idade realizam esse tipo de trabalho pode dar cadeia. Para o advogado Ariel de Castro Alves, membro do Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente, a denúncia é grave. “A polícia tem de investigar, pois se essas pessoas são menores de idade, tanto quem as alicia quanto quem pratica o ato sexual podem ser punidos por exploração sexual. E se a menina tiver menos de 14 anos o caso é enquadrado como estupro de vulnerável”, explica. Caso a prostituta seja maior de idade e se passa por menor ela pode ser enquadrada por falsidade ideológica.


Secretaria faz abordagens diárias no local
A Smads (Secretaria Municipal de Assistência Social) informou por nota que atua diariamente nessa região realizando abordagens e encaminhamentos, por meio de orientadores sociais do SEAS (Serviço Especializado de Abordagem Social). O vínculo começa com a aproximação e promoção das ações para que esses menores sejam reinseridos nas sua famílias e comunidades. Caso a ação seja negada, a pasta, junto com o Conselho Tutelar, encaminha os menores para os abrigos da rede que oferecerem acolhida a crianças e adolescentes com idade entre 0 e 17 anos, cujas famílias ou responsáveis encontram-se temporariamente impossibilitados de cumprir sua função de cuidado e proteção. Já sobre os maiores de idade, em caso de situação de rua, a Smads também faz abordagens no local com os agentes social do SEAS e promovem ações preventivas e, durante as abordagens, são oferecidos encaminhamentos para os serviços da rede socioassistencial, como os Centros de Acolhida.

Depoimento -Maurício Maranhão-repórter fotográfico
‘Ideia veio quando vi uma menina com cara de criança’
Eu sempre passei no Largo do Paissandu, no Centro, e sempre vi as prostitutas, nos fundos da Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos. Dessa vez estava cobrindo uma matéria que nada tinha a ver com prostituição. Na realidade estávamos tratando dos manifestantes do MTST (Movimento dos Trabalhadores sem teto) acampados na frente da Camara Municipal de São Paulo, como forma de fazer pressão para a votação do Plano Diretor da cidade.
 O que me chamou a atenção foi uma garotinha que, no primeiro momento, pensei que não tivesse mais do que 15 anos: baixinha, com cara de crianca e carregada de maquiagem no rosto. A partir desse momento, resolvi fazer um click, só para poder ilustrar a minha sugestão de pauta, pois fiquei decidido que iria fazer uma matéria sobre esse assunto.
Indignado como pessoa e determinado como jornalista, resolvi dar a minha contribuição à sociedade. Pensei que não era possível que as autoridades não vissem essa coisa à luz do dia. A pauta sugerida foi aceita pela minha editoria, então comecei a apurar o caso e fotografar a região, dando flagras nas meninas no meio do Largo do Paissandu abordado as pessoas que circulam por ali.

Em uma dessa vezes, decidi conversar com uma das meninas que acreditava ser menor de idade.
– Psiu-Psiu! Vamos namorar?, disse a garota.
- Estou atrasado, estou trabalhando!, completei.
– Venha aqui porque eu não mordo e podemos fazer um programinha rapidinho, o seu patrão nem vai reparar....
– Quanto custa?
– R$ 65 incluindo o hotel, que é logo ali.
– Quantos anos você tem?
– Eu tenho 20.
– Eu só gosto de meninas mais novas - disse, tentando apurar a idade dela.
– Vou falar a verdade, meu nome é Paula e tenho 17 anos e sou bem fogosa, você não vai se arrepender.
Tive de sair rápido de lá porque ela queria me levar para o hotel de qualquer jeito.

Cidade tem quatro pontos vulneráveis
 São Paulo tem pelo menos quatro pontos vulneráveis à abordagem de adultos para práticas sexuais com crianças e adolescentes. Essa é a conclusão de CPI da Câmara  que apurou a exploração sexual   infantil  no município. São eles, segundo o relatório: o entorno do Terminal de Cargas Fernão Dias, na Zona Norte, entorno do Itaquerão, na Zona Leste, a Ceagesp, na Oeste, e o chamado “Autorama”, no Ibirapuera, Zona Sul.

Regiões apresentam histórico da atividade
Segundo os vereadores, os pontos mapeados oferecem risco pelo intenso tráfego de cargas, por abrigarem hospedagem de adultos homens, por concentrarem numerosa população adulta masculina e por já serem tradicionais pontos de   prostituição  adulta.

Lei torna exploração um crime hediondo
 O país sancionou em maio a lei que torna hediondo o crime de exploração sexual de criança, adolescente ou pessoa vulnerável. A pena para  o crime  passou a ser de quatro a 10 anos de prisão, sem direito a pagamento de fiança.


Fonte: Diário de São Paulo

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