O assunto no que se refere à ordenação sacerdotal de mulheres, não está fechado, mas está em um processo de construção.
A relação entre a questão das mulheres na Igreja, da
ordenação sacerdotal e das próprias relações de poder é o tema do artigo do
teólogo espanhol José María Castillo, publicado em seu blog Teología Sin
Censura, 03-12-2013. A tradução é do Cepat.
Compreendo que há muitas mulheres decepcionadas com a
recente exortação do papa Francisco. Do mesmo modo que, sem dúvida, outras se
sentirão mais seguras frente ao que disse este papa inovador. Meu ponto de
vista representa pouco neste e entre tantos outros assuntos. Mas, mesmo que
seja muito pouco, quero deixar claro, desde já, que estou de acordo com o que
disse Francisco sobre a mulher na exortação “Evangelii Gaudium”.
Deve-se ter em conta que o próprio papa, nesta exortação
(que não é uma encíclica e menos ainda uma definição dogmática), disse aos
bispos e aos teólogos que em relação ao assunto concreto da ordenação
sacerdotal das mulheres “há um grande desafio”. E, por isso, disse aos
entendidos nestes temas que “poderiam ajudar a reconhecer melhor o que isto
implica em relação ao possível lugar da mulher na tomada de decisões
importantes, nos diversos âmbitos da Igreja” (nº 104). O assunto, portanto, no
que se refere à ordenação sacerdotal de mulheres, não está fechado, mas está em
um processo de construção, coisa que tentarei explicar de acordo com meu
alcance em relação a este tema.
O papa Francisco insiste na necessidade de que a Igreja
retorne à vivência integral do Evangelho. Pois bem, se isto for realmente
levado a sério, vamos “a sério” por em prática o que disse o papa. E, neste
caso, o que encontramos no Evangelho é que Jesus não ordenou ninguém como
sacerdote. A nenhuma mulher, é claro. Porém, tampouco aos homens, nem sequer os
apóstolos - como se costuma dizer, com mais ignorância do que conhecimento de
causa. De “sacerdotes” não se falava na Igreja até o século III. E sobre a
“ordem” e “ordenação” deveríamos saber que o “ordo” nem pertence à linguagem
bíblica, mas é uma terminologia e uma instituição que foi tomada da organização
da sociedade romana. E isso também foi feito na entrada do século III.
Não me detenho em outras explicações históricas. Para uma
informação de urgência, como é o caso, meu ponto de vista é que se Jesus não
pensou em sacerdotes, mas, pelo contrário, teve conflitos mortais com eles,
seria melhor para a Igreja aumentar o peso do clero e fortalecer uma instituição
que já se apropriou do poder e dos privilégios, em detrimento de todos os
demais crentes em Jesus? Vamos empoderar as mulheres nesta estrutura que já
está se extinguindo, visto que a cada dia há menos homens que queiram fazer
parte deste coletivo? Se Jesus não pensou em clérigos ou em sacerdotes, nós
iremos mantê-los? E vamos fortalecê-los com sacerdotisas?
Então, uma Igreja sem clero? Talvez, sim. Mas como? Jesus
escolheu doze apóstolos. Contudo, de acordo com o cristianismo nascente, aquilo
tinha a finalidade de que aqueles homens fossem testemunhas da ressurreição de
Jesus. Por isso, para Judas se buscou um substituto (Matias). Mas, depois, na
medida em que foram morrendo os demais apóstolos, para nenhum outro se buscou
substitutos. O Evangelho fala de discípulos exemplares, seguidores que tinham
que escolher viver como Jesus viveu acima de qualquer outra coisa, inclusive,
do enterro do próprio pai. Mas, eram pessoas com poderes e privilégios? De
nenhuma maneira. Jesus os queria como “os últimos”, os “serventes” e “escravos”
de todos. Isto é o que diz o Evangelho. O restante foi inventado e acrescentado
pelos mortais. Para viverem disto. Queremos viver como Jesus viveu? E quem
impede para as mulheres disso? Jesus não queria pessoas com poderes, mas
seguidores fiéis de sua forma de entender a vida.
E o que fazemos com os sacramentos? Que cada comunidade
decida, em cada caso, quem coordena, organiza ou gerencia; como se faz em todas
as instituições e grupos humanos. E o que disse o Concílio de Trento em sua
sessão VII? Antes de 1980 demonstrei, citando em detalhes as Atas do Concílio
(“Símbolos de liberdade”, 1981, cap. 8), que o que se afirma nesta sessão não é
uma doutrina de fé. Pode-se pensar de outra maneira e fazer as coisas de forma
distinta. O que importa não é quem tem este ou outro poder. O que nos importa
de verdade é viver como viveu Jesus. E sobre o tema do aborto, falarei outro
dia.
Fonte: Ihu
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