Estamos nos materializando cada vez mais. Os presentes
sempre são expressão de algo humano. Jamais podem tornar-se "o mais
importante". E onde fica o presente maior que é Jesus Cristo?
Por Dom Jacinto Bergmann*
Li há algum tempo atrás uma estatística interessante que a
famosa revista Stern da Alemanha fez na época do Natal, perguntando aos alemães
o que eles gostariam no e do Natal. Os quatro primeiros desejos expressos
foram: 89% responderam: "Eu gostaria de estar junto com a família";
54% responderam: "Eu me alegro com o encontro com os amigos, parentes e
conhecidos"; 37% responderam: "O importante para mim, é a celebração do nascimento de Jesus Cristo
e a participação no culto"; e 21% responderam: "Para mim, o mais
importante são os presentes de Natal".
Chama a atenção que as duas primeiras respostas atendem uma
necessidade bem humana: conviver com outras pessoas, sejam familiares, amigos e
conhecidos. No mundo europeu, onde o progresso e o desenvolvimento deram passos
gigantescos, o lado humano continua sendo a grande necessidade de realização.
Nós somos mais humanos quanto mais convivemos com os outros. No dia a dia da
vida, correndo atrás apenas do mero progresso e desenvolvimento material,
acabamos nos desumanizando.
Apenas a resposta em terceiro lugar na hierarquia dos
desejos dos alemães, que, afinal, é o grande motivo do Natal: “a celebração do
nascimento de Jesus Cristo e a participação do culto”, revela, como
paulatinamente vai desaparecendo o cerne do Natal. Por isso, cada vez mais é
necessário acentuar: Natal acima de tudo é Jesus Cristo. Se desaparecer este
cerne, inclusive a grande necessidade humana da convivência vai águas abaixo.
Conviver com o outro na paz, na justiça, na solidariedade, no perdão, na
promoção só é possível quando tivermos consciência que cada outro é um Jesus
Cristo encarnado.
A quarta resposta sobre os "presentes", como sendo
o mais importante, mostra o quanto estamos nos materializando cada vez mais. Os
presentes sempre são expressão de algo humano. Jamais podem tornar-se "o
mais importante". E onde fica o presente maior que é Jesus Cristo? A troca
de presentes na época de Natal, enquanto expressão deste presente maior,
somente isso tem algum sentido. Sem o mesmo, tornamo-nos cada vez mais
materializados e consequentemente vazios. Apesar de tantos presentes, a
humanidade anda vazia! O que preenche a pessoa humana é o grande presente Jesus
Cristo, enviado por Deus-Pai e encarnado na nossa história na gruta de Belém,
do qual todos os outros presentes são mera expressão.
Enquanto fazia esta análise das quatro respostas dos
alemães, vinha-me sempre em mente a forte curiosidade de saber como nós
brasileiros nos posicionamos diante do Natal. Somos considerados o país mais
católico do mundo. Mas será que somos verdadeiramente cristãos? Os cristãos,
como o próprio nome diz, colocam Jesus Cristo acima de tudo. Logo, Natal
deveria ser, em primeiro lugar, a celebração do nascimento de Jesus Cristo e
essa acontecendo nas celebrações eucarísticas natalinas nas comunidades
cristãs. Afinal, Jesus nasce como? Especialmente em cada Eucaristia celebrada e
participada. O resto é extensão disso.
Dom Jacinto Bergmann é arcebispo de Pelotas (RS).
Fonte: Dom Total
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